SOU FILHO DE MACUMBEIRA, E DAÍ?

MOACIR DE OLIVEIRA PORTELA

Co-autores: ALAN JOHN AGUIAR CUNHA, DANIEL SOUZA TABOZA e TERESINHA DE JESUS MARANHÃO
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

Uma grande parcela da população brasileira se autoafirma como católica num espaço de vivências em que religiões e seitas protestantes e afrodescendentes aglomeram grandes multidões de adeptos ou simpatizantes. Como vivenciar essa miscigenação de crenças e religiões nos ambientes escolares? A Partir de uma análise do perfil sócio - cultural de estudantes do nono ano de uma escola pública de Sobral e depois de me ver frente a frente com comportamentos intolerantes em sala de aula, vivido por um aluno que menosprezava um colega de turma por este ser filho supostamente de uma adepta do candomblé, me detive a pesquisar a frequência e como se deve lidar diante de situações em que a crença ou a religião do outro é vista como marginal, eis que surge o trabalho intitulado "Sou filho de Macumbeira, e daí? Tendo como principais objetivos analisar a frequência com que comportamentos intolerantes á religião do próximo ocorrem em sala de aula, além de buscar compreender quais são as ferramentas e atitudes tomadas pelo professor em sala de aula ao se deparar com situações de preconceito e muitas vezes até de bullying comecei a observar a escola analisada sobre um novo olhar, um olhar mais investigativo atento as mais diferentes formas de expressão e de rejeição á cultura religiosa do outro, além de estar atento ás atitudes dos professores sejam elas em sala de aula, em reuniões entre pais e mestre e até mesmo nos círculos de conversa nos pátios da escola. Um questionário sócio - cultural por mim desenvolvido contribuiu para a minha pesquisa, já que este através das respostas dos alunos me mostrou um perfil sócio - cultural e religioso daquelas crianças de nono ano que frequentam aquela escola pública sobralense, outro fato analisado foi propor ao professor um momento de debate em sala de aula em que o professor mostrava a grande miscigenação religiosa brasileira, abrindo espaço em sala de aula para dúvidas e questionamentos dos estudantes sobre o assunto abordado, tal experiência não foi tão exitosa, pois muitos não a levavam a sério, deixando claro, a falta de interesse de muitos sobre tais questionamentos. Em uma das reuniões entre pais e mestres tive a oportunidade de mostrar um pouco da minha pesquisa aos pais de estudantes, alguns até se prontificando a colaborar com o necessário, o que posteriormente seria um ponta pé inicial para uma série de entrevistas em que os pais faziam uma breve análise do comportamento de seus filhos no aspecto do respeito às outras culturas religiosas. Algumas leituras freireanas e piagetianas colaboraram com a minha pesquisa ao propiciarem a possibilidade de uma maior preparação de como trabalhar alguns questionamentos aos estudantes, já que muitos destes, já vivenciavam a adolescência, que para muitos é uma das fases mais difíceis de serem trabalhadas em sala de aula e mesmo em pesquisas de campo, pois a falta de interesse por debates sócio - culturais nos jovens é latente, sendo a sexualidade um dos maiores alvos destes estudantes que normalmente tem faixas etárias que variam desde 13 aos 15 anos de idade, sendo analisadas as faixas etárias dos estudantes do nono ano do ensino fundamental daquela escola.  Um importante trabalho de autoria de Patrícia Cristina de Aragão Araújo intitulado "Formação inicial e cotidiana do professor - historiador: Aproximações freireanas com o cotidiano escolar" me propiciou uma maior abordagem enquanto pesquisar na lide cotidiana tanto com os professores colaboradores da pesquisa quanto aos estudantes que eram analisados, outro trabalho que me aproximou dos jovens estudantes foi o de autoria de Lia Machado Fiuza Fialho intitulado "Juventude: Categoria Histórica" contribuindo para a minha maior inserção no grupo de estudantes não como pesquisador, nem como professor, mas também como amigo o que aproximou - me deste de uma forma ainda mais ampla, podendo até mesmo analisar o cotidiano destes fora das quatro paredes da escola. Como resultado de minha longa pesquisa a qual me detive a construir ao longo de mais de dois meses de levantamento bibliográfico e pesquisa de campo, observei que muitas vezes a falta de uma maior interação entre pais e filhos aliado a desinformação de seus familiares diante de algumas temáticas é um dos principais causadores das intolerâncias sócio - culturais e religiosas em sala de aula. Outra questão observada por mim enquanto pesquisador seria as fortes influências doutrinárias e comportamentais em casa que faz com que estes jovens não aceitem o culto ou a prática de outras religiões por companheiros de sala. Em relação aos cultos afros, um detalhe a que me detive, foi à questão da reprodução de um discurso muitas vezes familiar ou reproduzido por pessoas que convivem com estes jovens que deturpam a realidade destas religiões de origem africana, o que contribui para que estas sofram das mesmas perseguições sejam através de comportamentos e gestos de intolerância e até mesmo de discussões em sala de aula onde um dos estudantes difere palavras de baixo escalão ou intimidatórias em relação ao colega que frequenta outros cultos religiosos. Já em relação ao professor normalmente quando este se depara com conflitos de origens étnicas, raciais e religiosas, um comportamento é quase que similar entre o grupo de professores estudado, alguns aproveitam do conflito em sala para mostrar o quanto nosso país é rico em miscigenação de raças e culturas, responsáveis cada uma com suam importância para a construção da nação brasileira. Outro comportamento também adotado em momentos de conflito é a questão de encaminhar o estudante à coordenação sendo o problema transplantado da sala de aula para a direção, o que pouco contribui para a reflexão e conscientização dos estudantes enquanto seres sociais abertos ao conhecimento.Os vários apontamentos acima descritos nos mostram o quanto de nossas arbitrariedades enquanto pais e professores ainda são reproduzidas por aqueles que nos seguem sejam nossos filhos ou estudantes que veem nos pais e professores exemplos a serem seguidos. O trabalho acima descrito será apresentado em forma de banner como uma forma de contribuir com imagens e reflexões adquiridas nos dois meses de vivência e análise de campo na pequena escola pública de Sobral.