A bagaceira (1928), romance de José Américo de Almeida, é considerada pela crítica literária narrativa de grande valor para a história da Literatura, em detrimento de sua relevância estética. Todavia, ressaltamos neste trabalho a importância deste romance regionalista específico para a compreensão de um período histórico bem anterior ao enredo da obra, e, ademais, a importância deste período para a compreensão de toda a relevância da mesma. Referimo-nos à Idade Média, especificamente, ao momento em que vigorava o feudalismo baseado nas relações de vassalagem. Procuramos demonstrar, com base na Teoria da Residualidade, desenvolvida por Roberto Pontes, da Universidade Federal do Ceará, como A bagaceira contém fortes resíduos da mentalidade feudal própria do período medieval e, além disso, a importância da identificação de tais resíduos para a melhor compreensão da obra, bem como do momento histórico no qual ela se insere, e do espaço em que transcorre a ação, isto é, o sertão nordestino, que permanece essencialmente medieval. Através desse trabalho de leitura e análise cuidadosas de materiais literários e teóricos, concluímos que A bagaceira contém um reflexo da mentalidade medieval, o que revela uma faceta do modo de pensar, sentir, agir e viver do sertão nordestino no final do século XIX e início do século XX.