Animais peçonhentos, são aqueles que, por instinto de sobrevivência ou proteção, inoculam compostos nocivos, armazenados em glândulas, e produzidos em seu próprio organismo. Este armamento químico pode causar desde acidentes sem gravidade, até incapacitações e morte em humanos, dependendo de diversos fatores, como idade, predisposições a doenças, local da picada etc. A maioria dos acidentes ocorre com aranhas e escorpiões, e embora o Ministério da Saúde informe que há aproximadamente 100 mil acidentes por ano registrados, acreditasse que este número seja muito maior, devido à não notificação por pacientes que não procuram os serviços de saúde. Em muitos casos as pessoas se utilizam de crendices ou conhecimentos etnobiológicos, e como boa parte desses acidentes não são graves, a melhora é atribuída ao "tratamento", não gerando necessidade de buscar serviço médico. Este trabalho relata cinco casos não notificados de acidentes com animais peçonhentos na zona urbana e na zona rural do município Itapipoca-CE, ocorridos durante os últimos sete anos. Estes dados são parte dos resultados do projeto de pesquisa "Epidemiologia dos acidentes com Chellicerata no município de Itapipoca, Ceará". Os dados foram obtidos a partir de uma entrevista semiestruturada com perguntas pré-definidas, que abordavam diversas variáveis sociais e ambientais envolvidas em possíveis acidentes, aplicada 15 pessoas. Foram identificados cinco casos, sendo que em quatro as vítimas moravam no interior, o que dificulta a procura por atendimento médico. Em três dos casos, as vítimas foram picadas por escorpiões, não sabendo a correta identificação da espécie causadora do acidente. Os outros casos (02) foram causados por aranhas, um por caranguejeiras e outra por uma espécie não identificada. Em um destes casos, a pessoa picada estava grávida, e não procurou atendimento médico, no entanto os sintomas foram leves e cederam, não deixando sequelas. Nenhum dos casos relatados foi grave, provavelmente devido ao fato da maioria das espécies de Chelicerata serem inofensivas, ou a algum outro fator que não provocou o envenenamento ou que tenha impedido o agravamento do acidente. A maioria dos casos foi na zona rural, o que dificulta a procura por atendimento médico.