AQUILO PARA QUAL A LICENCIATURA NÃO NOS FORMA

JOSÉ ERONILDO GOMES DE ARAUJO JUNIOR

Co-autores: JOSÉ ERONILDO GOMES DE ARAUJO JUNIOR
Tipo de Apresentação: Relato de Experiência

Resumo

O relato aqui exposto será de uma das experiências mais decisivas de minha curta carreira de professor, em outubro de 2016. Quando assassinaram seis alunos de meus alunos em uma mesma escola. Por quê? Porque existe uma marca que persegue todo favelado: a do extermínio. Quatro foram mortos por facções rivais e dois por serem confundidos com traficantes por policiais. Peço para que compreendam que por motivos pessoais e éticos não revelarei algumas informações, que já suponho entenderem o porquê. Pois bem, existe certas coisas que mesmo passando por uma boa graduação, não se pode nunca estar preparado. Sempre trabalhei como professor substituto, e por isso, trabalhei em um número considerável de colégios em Fortaleza. A escola no qual passei por isso fica na Barra do Ceará, e o local era comandado pela facção criminosa GDE. Foram duas semanas nas quais a vida parecia miúda. Eu não entendia o motivo de não ter conseguido salvá-los. Saber que nunca mais poderei ajudá-los a conseguir uma vida melhor, me atesta, todos os dias, minha falha como professor. Nunca achei que ser professor fosse fácil, mas não se concebia em mim que uma carteira de aula poderia ser tão pesada. Não, a graduação não nos prepara para lidar com certas dores. Nem poderia, pois saber lidar com isso é naturalizar o evento, naturalizar significa justificar. E nenhum professor pode justificar esse ocorrido. Não cabe na linguagem essa dor e essa memória de entrar pela primeira vez na sala depois dessas duas semanas. O pincel desaprende a escrever. Afinal, há algo a se escrever? Há. E é por isso que a profissão de professor é pivô de toda revolução. Porque ela é a única que pode garantir que eventos assim não ocorram novamente.