Os poemas de Conceição Evaristo são fortes, impactantes e trazem os símbolos da cultura ancestral ligados ao feminino, numa denúncia da violência sofrida pelas mulheres, sobretudo as negras, ao longo do processo de sua escravização no Brasil, sem perder o lirismo, coisas difíceis de conciliar num texto literário. Este trabalho constitui uma leitura crítica do poema "A noite não adormece nos olhos das mulheres", de Conceição Evaristo, tendo como perspectiva a abordagem do feminino sagrado e a poesia como instrumento de resistência e empoderamento da mulher. Seu fundamento epistemológico se tecerá, notadamente, em torno dos estudos de Bosi (1996, 1997, 2003) sobre o texto literário e a resistência, em Clarissa Pinkola Esté (1994), Mircea Eliade (1994) e Joseph Campbell (1997) sobre a história das mulheres, o feminino selvagem/sagrado e sua história. A violência contra a mulher, por sua vez, será embasada nos estudos de H. Saffioti (2015), Pierre Bordieu (2017) e Angela Davis (2016). O objetivo central é fazer a análise crítica do poema de Conceição Evaristo, destacando a evocação de alguns elementos ancestrais como categorias importantes para a construção do sagrado feminino e da resistência da mulher no poema, entre eles: a mulher sagrada, a guerreira, o círculo sagrado, a lua, a menstruação, a água etc. Todos são elementos positivos na história da mulher que as sociedades patriarcais silenciaram e negativaram para melhor dominação da mulher.