Percebe-se que, cada vez mais, a música sertaneja ganha novas roupagens. Desde meados de 2015, o feminejo, atual representação feminina dentro do sertanejo universitário, ganha destaque e dá voz a narrativas que historicamente não eram cantadas por mulheres. Nesse cenário, Marília Mendonça abre espaço para decepções amorosas, traições, amantes, relacionamentos que deram certo e mulheres cada vez mais bem resolvidas, trazendo destaque para a figura da amante, que tem sido mostrada de maneira mais complexa. Desse modo, buscamos investigar a nova representação da figura da amante nessas músicas e, em segundo plano, apontar algumas contribuições do trabalho com o gênero canção na escola, um espaço de formação cidadã e crítica. Compreendendo o poder do discurso, adotamos a vertente da Análise do Discurso de linha francesa de Maingueneau (2008) sobre o primado do interdiscurso e a categoria discursiva de ethos. Assim, articulamos as análises emergindo os conceitos de Maingueneau em um corpus de músicas de Marília Mendonça que desenvolvem narrativas de amantes, intencionando discutir sua representatividade e, posteriormente, demonstrar que o trabalho com canções pode desvelar questões de gênero a serem abordadas em sala de aula. Observamos que Marília Mendonça oscila entre nuances líricas e dramáticas. As músicas traçam uma representação mais humanizada da mulher enquanto amante, ao mesmo passo em que a insere ativamente num debate ao qual a mesma sempre se encontrou de forma passiva, o que pode ser atestado historicamente e conduzido ao centro de importantes discussões na esfera educacional. Percebemos que a amante assume diversos ethé, emergindo a complexidade dessa figura para além das convenções sociais que inclinam-se sobre ela. As canções analisadas, ao darem voz à amante, provocam uma reflexão sobre os novos papéis sociais assumidos pela mulher e configuram, consequentemente, ferramentas poderosas de propagação dos discursos sobre gênero na sociedade e no contexto escolar.