O presente artigo tem como objetivo lançar indagações acerca das ambiguidades da escrita do romance O mar nunca transborda (2013), da autora Ana Maria Machado. Nesse romance, tanto o narrador quanto a personagem principal, Liana, entrecruzam, cada um a seu modo, atendendo a fins específicos, o tempo ficcional com o tempo histórico, tentando, ambos, construir uma narrativa mais complexa na qual se misturam os aspectos pessoais da vida de Liana com os dados e reflexões sobre a formação histórica e cultural do Brasil, representado metonimicamente pelo vilarejo no qual Liana passou boa parte da sua infância. No entanto, para adentrar nessa zona de fronteira, sempre movediça, o diálogo com os estudos de Júlio Pimentel Pinto (1998) sobre os dizeres e os narrares da História e da Literatura serão fundamentais para apreender a fronteira como um terceiro espaço ou uma terceira margem, na qual não existe uma separação nítida, categórica do que é ficcional e do que é histórico, uma vez que ambos narram o humano em suas peripécias pelo tempo. Assim sendo, este estudo visa contribuir para as discussões acerca dos (des)limites da escrita, compreendida aqui a partir do seu processo de construção de realidades e percepções sobre o mundo e os sujeitos.