A INGLATERRA PÓS-PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, A LUTA DE CLASSES E A INDUSTRIALIZAÇÃO NO ROMANCE O AMANTE DE LADY CHATTERLEY
Sabemos que a literatura registra múltiplos aspectos do campo social em que ela se insere. Partindo deste pressuposto, este artigo tem como finalidade estabelecer uma relação entre história e literatura através do romance O amante de lady Chatterley escrito pelo modernista inglês D. H. Lawrence. Para atingir este objetivo, fizemos uma análise de algumas passagens deste romance que descrevem o período pós-Primeira Guerra Mundial, a luta de classes e o processo de Industrialização na Inglaterra do início do século XX.
Muito se tem discutido acerca do uso de obras literárias como fontes históricas. Esta relação é objeto de estudo de umas das vertentes da História Cultural, que debate sobre as aproximações e os distanciamentos entre história e literatura. Para Pesavento (1998, p.22), há um "empenho, tanto por parte da literatura quanto da história, de compor uma construção do real de forma a torná-la crível, desejável, aceita".
Não faz parte das intenções do texto literário provar que os fatos narrados tenham acontecido concretamente, mas a narrativa apresenta em si uma explicação do real e traduz sua sensibilidade diante do mundo, recuperada pelo autor (PESAVENTO, 1998). David Hebert Lawrence, em seu livro O amante de Lady Chatterley, consegue recuperar e fazer com que o leitor vivencie toda a atmosfera da Inglaterra pós-Primeira Guerra Mundial.
De acordo com Stevens (2007), o já citado romance oferece uma visão sombria do poder de destruição da industrialização e da modernidade. O impacto da modernidade é mostrado através do retrato que Lawrence faz da vida humana e as descrições de paisagens que foram devastadas pelas indústrias, minas de carvão e fábricas. O autor capta em sua escrita "[...] os confrontos violentos do ambiente industrial, seus cheiros, seus sons, suas texturas, seus esplendores visuais terríveis [..]" (STEVENS, 2007, p. 143, tradução nossa).
O romance também revela mudanças na paisagem da Inglaterra, onde os casarões e castelos estavam dando lugar a casinhas de tijolos, ferrovias e fábricas, delineando a Inglaterra industrial. Segundo Ghazel (2014), esta obra se organiza em duas fases: a primeira busca desconstruir e destruir o sistema de classes através de alguns questionamentos acerca da fundação do sistema de classe britânico, mostrando seu vazio de valores; já a segunda, começa ao abalar o senso de classe do leitor para depois propor uma nova consciência de classe. "Esta fase converte o leitor em uma nova experiência social baseada na sensualidade. Lawrence transgride as fronteiras de classe ao liberar todas as classes sociais das prerrogativas de classe e gênero". (GHAZEL, 2014, p. 3, tradução nossa).
Este trabalho procurou utilizar a literatura como um registro que nos permite compreender as experiências humanas, os hábitos, as atitudes, os pensamentos, as inquietações, as esperanças e os sonhos de uma sociedade que foi retratada em uma determinada época.