DOS CRIMES CONTRA OS ANIMAIS DE CRIAÇÃO: NATUREZA, DISPUTAS E CONTROLE SOCIAL NO CARIRI CEARENSE (1850-1884)

HUGO EDUARDO DAMASCENO CAVALCANTE

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

O presente trabalho visa analisar as relações historicamente estabelecidas em torno de como a sociedade pretendeu organizar e controlar o espaço para atender às suas expectativas. No Cariri cearense da segunda metade do século XIX, em que as formas de produção e de sociabilidade eram permeadas por um mundo rural, as características naturais eram exaltadas como forma de atender os diferentes interesses das classes senhoriais. Nesse contexto, os diversos conflitos gerados entre a criação de animais e a agricultura se baseavam no acesso a terra, assim como nos interesses econômicos. Nos discursos do jornal O Araripe (1855-1864), como exemplo, o Cariri era exaltado a partir de hipérboles bucólicas como forma de afirmar - por mais que isso não caracterizasse toda a região - a ideia de um "oásis do sertão", em que a agricultura seria a atividade responsável por levar o espaço ao progresso. Por outro lado, a criação de gados era tida como uma "praga" e deveria ser afastada das áreas regadias da Chapada do Araripe, que deveriam ser utilizadas exclusivamente pela lavoura. Esses discursos, entretanto, não representam a realidade, apesar a comporem. Nos inúmeros conflitos que envolviam os sujeitos e os animais de criação, inúmeras questões sobre a propriedade, o trabalho, a natureza e a violência emergiram como noções que possibilitaram as discussões para a construção da pesquisa. Para além dos jornais, foram utilizados os códigos de conduta de Milagres, Crato, Barbalha e Jardim, os processos criminais referentes aos crimes de dano e de roubo, assim como os relatórios dos presidentes de província.