Levando em conta a discussão acerca do lugar da mulher negra nas produções literárias contemporâneas e por considerar o papel central da literatura na produção e desconstrução de identidades, este trabalho buscará questionar os possíveis estereótipos criados pelo olhar eurocêntrico-patriarcal acerca da mulher negra, em contraposição às representações do feminino contidas no romance histórico "Um defeito de cor", de Ana Maria Gonçalves, obra que dá voz às memórias de uma africana escravizada que relata, em uma longa narrativa, a sua história de vida no Brasil colônia. O trabalho tem por interesse propor o estudo da epistemologia afrocêntrica como ferramenta para viabilizar um processo de questionamento dos paradigmas literários oficiais e conseqüente metamorfose da consciência, no sentido de um deslocamento da representação da mulher negra no imaginário coletivo. Para isto, tomaremos como eixo norteador a possibilidade da contestação dos mitos oficiais e a construção de novas histórias e literaturas a partir das potências psíquicas e educativas das imagens arquetípicas da cosmologia africana, em especial, das deusas iorubás.