A transição do século XIX para o XX no Brasil foi marcada pelo intenso debate sobre civilizar o país. A medicina, sobretudo a higiene, era vista como a ferramenta mais eficaz e indispensável para impulsionar o Estado rumo à civilização. No contexto de crescimento urbano, fim do trabalho escravo e de construção de uma república de cidadãos, surge como questão a necessidade de braços para o trabalho e a mortalidade infantil como ameaça ao desenvolvimento nacional. Neste sentido, sanear as cidades e higienizar a população foram as principais bandeiras defendidas pelas elites locais. Analisamos então os discursos produzidos por intelectuais cearenses e administradores urbanos no intuito de compreender as tramas e tensões em meio as quais foram gestadas as políticas de combate à mortalidade infantil em Fortaleza entre os anos de 1892 a 1928, período durante o qual os serviços de saúde ficaram a cargo dos governos estaduais, cabendo então à elite intelectual local um maior protagonismo na interlocução com os poderes públicos e a população urbana sobre o planejamento, o encaminhamento e a efetivação das políticas de saúde na cidade.