Miguel Torga (1907 - 1995), autor português, teve sua vida atravessada pelo Brasil quando viveu exilado durante quatro anos na fazenda dos tios, no interior de Minas Gerais. Assim, aliando experiências, memória e literatura autobiográfica, Torga publica A criação do mundo: segundo dia (1937). O livro, que narra os primeiros anos de sua adolescência no Brasil, traz um indivíduo no entre-lugar próprio do exílio, bem como temas próprios do rememorar: infância, viagem, sofrimento e autorreflexão. Diante das singularidades que geram esse relato memorialístico e da contribuição literária brasileira e portuguesa assumida pela obra, procura-se com esse trabalho investigar como o escritor constrói seu espaço autobiográfico aliado à funcionalidade textual da memória (natural, social e cultural) e ao mecanismo temporal - passado e presente - utilizado na narrativa. Para isso, é indispensável a contribuição teórica de Clara Rocha (eu autobiográfico), Helena Buescu (memória na literatura) e Paul Ricoeur (tempo e narrativa). O trabalho, fruto de um ano de pesquisa na Iniciação Científica da Universidade Estadual do Ceará (UECE), permite contribuir com os estudos sobre memória na literatura, como também disseminar conhecimentos sobre a escrita memorialística de Miguel Torga.