RESUMO. A transmissão vertical da sífilis permanece um grande problema de saúde pública no Brasil. Das várias doenças que podem ser transmitidas durante o ciclo grávido puerperal, a sífilis é a que tem as maiores taxas de transmissão. Com o estudo de caso realizado no Hospital São Lucas, e por meio do conhecimento na disciplina de saúde da criança e adolescente, foi possível observar e acompanhar um caso de sífilis congênita em um neonato. Com o diagnóstico de sífilis congênita, devido ao pré-natal inadequado, foi iniciado o tratamento de imediato, de acordo com a avaliação dos profissionais e prescrição médica. Ao decorrer do estudo, percebe-se a importância da utilização da SAE, a sistematização da assistência de enfermagem, planos de cuidados que organizam e facilitam os cuidados do profissional enfermeiro.
Palavras-chave: Cuidado. Enfermagem. Sífilis Congênita.
1. INTRODUÇÃO
A sífilis congênita é o resultado da disseminação hematogênica do Treponema pallidum, da gestante infectada não tratada ou inadequadamente tratada para o seu concepto, por via transplacentária. Sabe-se que, a transmissão vertical do T. pallidum pode ocorrer em qualquer fase gestacional ou estágio clínico da doença materna, os principais fatores que determinam a probabilidade de transmissão vertical do T. pallidum são o estágio da sífilis na mãe e a duração da exposição do feto no útero. De acordo com o ministério da saúde, a taxa de infecção da transmissão vertical do T. pallidum em mulheres não tratadas é de 70 a 100%, nas fases primária e secundária da doença, reduzindo-se para aproximadamente 30% nas fases tardias da infecção materna (latente tardia e terciária).
Há possibilidade de transmissão direta do T. pallidum por meio do contato da criança pelo canal de parto, se houver lesões genitais maternas. Durante o aleitamento, ocorrerá apenas se houver lesão mamária por sífilis. Ocorre aborto espontâneo, natimorto ou morte perinatal em aproximadamente 40% das crianças infectadas a partir de mães não tratadas. Quando a mulher adquire sífilis durante a gravidez, poderá haver infecção assintomática ou sintomática nos recém-nascidos. Mais de 50% das crianças infectadas são assintomáticas ao nascimento, com surgimento dos primeiros sintomas, geralmente, nos primeiros 3 meses de vida. Por isso, é muito importante a triagem sorológica da mãe na maternidade.
Acreditava-se que a infecção do feto, a partir da mãe com sífilis,, não ocorresse antes do 4º mês de gestação, entretanto, já se constatou a presença de T. pallidum em fetos, já a partir da 9a semana de gestação. As alterações fisiopatogênicas observadas na gestante são as mesmas que ocorrem na não gestante. A sífilis congênita apresenta, para efeito de classificação, dois estágios: precoce, diagnosticada até dois anos de vida e tardia, após esse período. O diagnóstico definitivo de sífilis congênita pode ser estabelecido por meio da aplicação da pesquisa direta do T. pallidum (microscopia de campo escuro ou imunofluorescência direta), além de estudos histopatológicos, portanto, devem ser realizados sempre que possível.
No Brasil, o número de casos notificados de sífilis na gestação tem aumentado a cada ano. Em 2013, foram notificados 21.382 desses casos no país, com uma taxa de detecção de 7,4 por mil nascidos vivos. Dados de estudos nacionais estimam uma prevalência de sífilis na gestação de aproximadamente 1%, o que corresponderia a cerca de 30 mil casos por ano. Considerando-se essa estimativa, o número notificado de gestantes com sífilis é ainda inferior ao esperado, indicando dificuldades no diagnóstico e/ou na notificação de casos.
A sífilis congênita (SC) é uma doença de notificação compulsória, considerada evento sentinela da qualidade da assistência pré-natal e responsável por desfechos desfavoráveis como óbito fetal ou perinatal, prematuridade, baixo peso ao nascerem, lesões neurológicas e outras sequelas, como elementos fundamentais no enfrentamento da transmissão vertical da sífilis, as ações de diagnóstico e prevenção precisam ser reforçadas especialmente no pré-natal e parto, com profissionais qualificados.
A forma mais eficaz do profissional de enfermagem ter sucesso no tratamento da patologia, é sistematizando a sua assistência, através da SAE (Sistematização da assistência de enfermagem). O Processo de Enfermagem (PE) é a dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, que viabiliza a organização da assistência de enfermagem. Representa uma abordagem de enfermagem ética e humanizada, dirigida à resolução de problemas, atendendo às necessidades de cuidados de saúde e de enfermagem de uma pessoa.
No Brasil é uma atividade regulamentada pela Lei do Exercício Profissional da Enfermagem, constituindo, portanto, uma ferramenta de trabalho do enfermeiro. Esse trabalho teve como objetivo relatar uma experiência vivenciada em campo devido ser uma patologia que tem se tornado frequente. Também, devido o enfermeiro ter contato direto e constante com a população infectada.
2. METODOLOGIA:
Através do estágio supervisionado no hospital de Referência São Lucas, localizado no município de Crateús CE, foi possível observar um caso de sífilis congênita. Com bases nos estudos em saúde da criança e adolescente, foi implementado a SAE (Sistematização da Assistência de enfermagem) e também o NIC (Nursing Interventions Classification).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Por meio do estágio supervisionado no hospital de Referência São Lucas, localizado no município de Crateús CE, foi realizado um acompanhamento de um caso de sífilis congênita, o recém-nascido (RN) possuía quatro dias de vida, com VDRL reagente, situação estável, consciente e ativo, aleitamento materno presente, fisicamente sem alterações, localizado no setor de pediatria, sob tratamento e em um quarto isolado, impedindo infecções cruzadas. A transmissão vertical ocorreu devido ao tratamento inadequado da gestante infectada.
Os exames realizados foram: VDRL (em amostra de sangue periférico de todos os recém-nascidos, cujas mães apresentaram VDRL reagente na gestação, ou no parto, ou em caso de suspeita clínica de sífilis congênita); radiografia de ossos longos, hemograma e análise do LCR (em todos RN com VDRL reagente ou suspeita clínica de sífilis congênita ou ausência de tratamento materno adequado). Com confirmação da suspeita, é realizado o tratamento imediato dos casos detectados de sífilis congênita e sífilis materna, incluindo o parceiro sexual. O acompanhamento do RN se dá por meio de VDRL com 1 mês, 3, 6, 12 e 18 meses de idade, interrompendo o seguimento com dois exames consecutivos de VDRL negativos. E também TPHA ou FTA-Abs para sífilis após os 18 meses de idade para a confirmação do caso. A medicação realizada se dá com a penicilina cristalina de ação bactericida. Penicilina cristalina, 50.000 UI/Kg/dose, endovenosa, de 12/12 h (nos primeiros 7 dias de vida) e de 8/8 h (após 7 dias de vida).
As intervenções realizadas ao paciente com sífilis é administração da medicação corretamente, promoção de apoio familiar e orientações a respeito da condição clínica. A sífilis congênita pode ser evitada com um pré-natal bem acompanhado. Para isso é necessário incentivar a participação das usuárias, realizar vinculação e explicar a importância do acompanhamento na gestação por meio de consultas de enfermagem e médicas. A promoção da saúde da mulher é defendida por programas como o PAISM (Programa de Atenção Integral a Saúde da Mulher) e está prevista em legislação, assim como a saúde da criança.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Percebe-se que a finalidade de implantar a SAE nas instituições hospitalares do Brasil é a de organizar o cuidado a partir da adoção de um método sistemático, proporcionando ao enfermeiro a definição do seu espaço de atuação, do seu desempenho no campo da gerência em saúde e da assistência em Enfermagem. Observou-se que a sífilis ainda é um grande problema de saúde pública, por ainda apresentar novos casos, anualmente, em todo mundo e no Brasil. Nessa perspectiva, são necessárias implementações, planos de cuidado, tanto para a mãe durante a consulta de pré-natal como também em casos que ocorre a transmissão vertical.
5. REFERÊNCIAS:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico - Sífilis, Brasília, 2016. Acesso em: 12 Jan. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e AIDS. Diretrizes para o controle de sífilis congênita, Brasília, 2006. Acesso em: 12 jun.2019
Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais. Manual Técnico para Diagnóstico da Sífilis, Brasília, 2016.