As crianças que chegam às escolas devem ser consideradas em sua inteireza e não seccionadas por sua capacidade cognitiva e afetividade, posto que o trabalho deve ser realizado com vistas à formação de um sujeito pleno. Afeito a essa discussão contemporânea e necessária para quem lida com a educação de crianças, este trabalho objetiva apresentar um relato da experiência vivenciada no Subprojeto "Tessituras de Vida e Cidadania: Ler, escrever e contar histórias no Sertão". Desenvolvido no curso de Pedagogia da Faculdade de Educação de Crateús - FAEC, unidade do interior da Universidade Estadual do Ceará - UECE, o referido subprojeto faz parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - Pibid, intuindo a qualificação inicial e valorização do docente para a educação básica. Assim, esse trabalho expões as perspectivas dos bolsistas acima citados que, durante conversas esporádicas fora do âmbito das instituições de ensino em que atuam, refletiram sobre as ações desenvolvidas no clube de leitura com o formato "História de vida" e, partindo destas reflexões compreenderam a dimensão do trabalho desenvolvido para a construção dos saberes e valores dos alunos. A proposta desenvolveu-se em oito instituições da rede municipal de Crateús-CE, atendidas pelo subprojeto, com os alunos de 4º e 5° ano nos meses de março, abril e maio de 2015. Objetivou-se abordar a vida pessoal dos alunos, seus anseios, desejos e sonhos em discussões que tratavam de seus laços familiares. Inicialmente, considerou-se a possibilidade de aproximar-se dos alunos e solidificar os laços afetivos baseados na confiança e respeito por meio do diálogo e da escuta, acreditando que isso possibilitaria a construção de uma relação afetiva e dialógica. Foi preciso romper com a ideia do aluno como elemento a ser instruído e considerá-lo sujeito possuidor de sentimentos forjados nas vivências reais em contato com uma coletividade concreta (VASCONCELOS, 2004). Para tanto, a atividade desenvolveu-se em oito encontros e, nos quatro últimos clubes, os alunos confeccionaram o "Livro de memorias", redigindo textos sobre suas identidades, suas casas e famílias, modos de diversão e seus sonhos. Em cada encontro, durante a roda de conversa, os alunos conversavam sobre a temática proposta, compondo um jogo dialógico em que uma fala puxava a outra e todos expunham suas histórias de vida. O momento da escrita era o registro no papel de suas falas que continham medos, angústias, denúncias, afeto, amor, raiva, sentimentos misturados que permitiram aos bolsistas ID irem, gradativamente, ressignificando seus olhares e construindo imagens novas dos alunos (ARROYO, 2014). Evidenciou-se a necessidade da consideração dos mesmos em sua plenitude no ambiente formal de ensino, dado que o conhecimento aprendido numa relação de afeto é mais significativo para o aluno (CAPELATTO, S/D). Percebeu-se a possibilidade do desenvolvimento de estratégias de ensino da leitura e da escrita tendo por base a realidade do educando, posto que partem daquilo que sabem e sentem-se respeitados em seus saberes (FREIRE, 2011). Evidenciou-se, ainda, a necessidade de o professor conhecer os seus alunos e perceber suas manifestações afetivas, como possibilidade de construir imagens coerentes do educando. Conclui-se que a consideração das relações afetivas no espaço escolar é condição indispensável para o desenvolvimento da prática educativa.