Paulo Freire pensou a educação direcionada à emancipação da classe popular, pois esteve em contato com trabalhadores explorados com quem pôde aprender e entender suas angústias e anseios quando desesperançados da vida. O presente trabalho objetiva elucidar a trajetória de Paulo Freire na constituição de seu pensamento, uma vez que, suas ideias estão explicitamente impregnadas de experiências pessoais vividas tanto na infância e mocidade, quanto na vida adulta, política e profissional. Abordamos três aspectos de Paulo Freire: a pessoa, o professor e o militante. Dado que esses aspectos apresentam-se em uma imbricada "camaradagem" em que ambos se fundamentam e se justificam no pensamento sociológico, político e pedagógico do autor sem que haja sobreposição ou supervalorização deste sobre aquele. Por essas vivências Paulo Freire sempre concebeu a emancipação de homens e mulheres vinculada ao aprendizado das primeiras letras, considerando que só se aprende a escrever o mundo por meio dos sentidos experimentados. Nesse sentido, são as experiências de Freire que lhe permitem constituir sua visão de mundo a partir das vivências reais com homens e mulheres concretos e condicionados. Emergindo de um estado de inconsciência de sua inconclusão, Freire professa a possiblidade esperançosa de os sujeitos produzirem sua autonomia pela busca da conscientização de seu inacabamento. Essa abordagem, de cunho qualitativo, foi desenvolvida por meio de estudos bibliográficos referenciados em obras de Freire (1989, 1992, 2001, 2014) e Brandão (2005). Percebeu-se que as discussões elencadas por Freire referem-se ao seu pertencimento à classe popular, bem como ao seu direcionamento político definido com base nas suas vivências na infância e juventude, marcadas pelas intempéries que culminaram na oscilação de status. Ora numa condição de garoto de classe média, ora admitido na escola com bolsa de estudos, Freire constituiu sua identidade com outros sujeitos em condições similares. Evidenciou-se em seus escritos a preocupação em considerar o sujeito no processo formal de ensino. Sem negar-lhe o conhecimento sistematizado, Freire acredita no valor dessas aprendizagens somente quando capazes de contribuírem para a emancipação de homens e mulheres. Conclui-se, portanto, que tratar da pessoa, do profissional educador e do militante político em Freire é, em suma, perceber o seu engajamento na formulação de uma proposta educativa capaz de alfabetizar conscientizando a mulher e o homem da classe popular.