INTRODUÇÃO
No Brasil, os idosos representam a parcela da população que mais cresce no país, com perspectivas de atingir cerca de 41,5 milhões, em 2030, e 73,5 milhões, em 2060 (IBGE, 2018). Nesse contexto, novas medidas para a reestruturação da saúde devem ser tomadas, já que existirá uma crescente demanda de assistência à saúde para essa população. No imaginário popular, o envelhecimento ainda está atrelado ao aparecimento de doenças e, como consequência, a limitação da autonomia e da funcionalidade. Contudo, apesar da população idosa possuir um perfil epidemiológico marcado por elevadas taxas de morbimortalidades por condições crônicas e agudizações de condições crônicas, esse cenário não limita o indivíduo com relação a realização das atividades cotidianas, capacidade de decisão e participação na sociedade (BRASIL, 2018). A Avaliação Multidimensional da Saúde do Idoso permite a identificação das principais demandas biopsicossociais dessa população, pois consiste em uma avaliação geral dos seguintes aspectos: cognição, humor, mobilidade, comunicação e funcionalidade, direcionando a aplicação de outros instrumentos em virtude das alterações que são encontradas no decorrer de sua aplicação (PARANÁ, 2018). O enfermeiro, como profissional da saúde que assiste ao idoso em vários contextos, pode utilizar-se de tais avaliações como forma de auxílio no processo de sistematização do cuidado.
OBJETIVO
Relatar a experiência da elaboração de um plano de cuidados em idosa da comunidade a partir da aplicação do instrumento de Avaliação Multidimensional da Saúde do Idoso.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, realizado com idosa participante do grupo ''Idoso Ativo'' que acontece semanalmente no Instituto de Educação Física e Esportes (IEFES) da Universidade Federal do Ceará (UFC). O estudo foi realizado como atividade da disciplina ''Enfermagem no Processo de Cuidar da Saúde do Idoso'' por acadêmicas de Enfermagem da UFC. A coleta de dados foi realizada na cidade de Fortaleza-CE no mês de Outubro de 2018, através da aplicação do instrumento de Avaliação Multidimensional da Saúde do Idoso, Mini Exame do Estado Mental (MEEM), Teste do Relógio, Teste de Fluência Verbal por Categorias Semânticas e Escala de Incontinência Urinária, com a finalidade de rastreio de síndromes demenciais, avaliação da cognição e memória, raciocínio, mobilidade e incontinência urinária. A aplicação dos instrumentos teve duração de aproximadamente uma hora e foi realizado em momento anterior ao horário do início do grupo de idosos desenvolvido pelo IEFES. Após a aplicação da avaliação traçou-se um plano de cuidados de Enfermagem com base na Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), contendo diagnósticos, intervenções e resultados. Adotou-se a taxonomia da North American Nursing Diagnosis Association (NANDA 2015-2017) para a elaboração dos diagnósticos de enfermagem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
F.B.S., 63 anos, sexo feminino, casada, participante do grupo de idosas do IEFES. Relata ter realizado o ensino fundamental incompleto. Apresentou perda ponderal no último ano sem razões específicas. Atualmente pesa 50 kg. Afirma ter dificuldades para realizar atividades diárias devido a problemas visuais. Ao teste do sussurro apresentou resposta positiva. Relata perda de urina involuntária cerca de três vezes por dia. Afirma que essa situação provoca incômodo e embaraço principalmente em viagens. Ao ser aplicado a escala de incontinência urinária, verificou-se pontuação máxima (21), o que representa um impacto muito grave na qualidade de vida do indivíduo. Afirma ter problemas com relação à capacidade de desfrutar prazer nas relações sexuais. Calendário vacinal atualizado. Não se sente triste ou desanimada, tendo uma pontuação de 10 em uma escala de 1 a 10 (sendo 1 mais triste e 10 mais feliz). Função dos MMSS e MMII preservadas. Já sofreu cerca de três quedas. Presença de escada no domicílio. Realiza as atividades de vida diária de forma satisfatória. Considera o cônjuge e o filho como pessoas significativas com relação ao suporte social. Quanto ao MEEM, apresentou pontuação 19, inferior ao ideal para sua escolaridade (23). Apresentou resultado superior ao adequado no teste de fluência verbal por categorias semânticas (17 escores), quando o esperado é 14 a 15 escores. Quanto ao desenho do relógio, apresentou ponteiros completamente alterados e números concentrados apenas em uma região do mostrador, o que indica a necessidade de uma avaliação da função neuropsicológica mais detalhada. Diante dos resultados, foram identificados os seguintes diagnósticos de enfermagem: 1. Eliminação urinária prejudicada relacionada a múltiplas causas caracterizado por incontinência urinária e urgência urinária; 2. Disfunção sexual relacionada a alterações do corpo e incontinência caracterizada por alteração na atividade sexual e alteração na satisfação sexual; 3. Risco de quedas relacionado à história de quedas e presença de escadas no domicílio. Quanto as intervenções propostas para o caso analisado, pode-se citar respectivamente: 1. Orientação quanto à: redução das barreiras ambientais, exercícios que podem ser realizados para o fortalecimento da musculatura pélvica, percepção e adaptação do ser incontinente, uso de produtos absorventes e terapia comportamental; 2. Apoio psicológico a idosa e companheiro, além da investigação mais ampliada dos sintomas; 3. Orientação quanto à: utilização de calçados adequados, retirada de objetos do domicílio que trazem risco de quedas, utilização de barras de apoio no domicílio, estabelecimento de iluminação adequada, pratica de atividades físicas e banho de sol. Como resultados de enfermagem, podem ser elencados, respectivamente: 1. Diminuição dos eventos de perda urinária involuntária com aumento da qualidade de vida; 2. Identificação das causas de alteração da satisfação sexual com melhor definição da conduta a ser realizada; 3. Ações de autocuidado estabelecidas para a prevenção de quedas.
CONCLUSÃO
A aplicação do instrumento de Avaliação Multidimensional da Saúde do Idoso permite ao enfermeiro realizar uma avaliação geral da condição de saúde do idoso e o reconhecimento dos principais problemas, direcionando o profissional para a aplicação de outros testes, que concedem um maior detalhamento dos principais problemas de saúde observados. Sendo assim, tal instrumento constitui-se como elemento valioso para a realização da coleta de dados na consulta de enfermagem, visto que possui os problemas que mais incidem na população idosa e que não são rastreados de forma rotineira. Dessa forma, o enfermeiro pode elencar os principais diagnósticos e direcionar os cuidados de enfermagem guiado pelos dados obtidos mediante a aplicação do instrumento supracitado. A vivência proporcionou rico crescimento teórico-prático, ampliando a visão para um cuidado holístico e sistematizado da saúde do idoso, além do desenvolvimento de uma análise crítica acerca da utilização de instrumentos de avaliação que corroboram para o melhor atendimento ao usuário idoso.