COMPOSIÇÃO FITOQUÍMICA, ATIVIDADE ANTIOXIDANTE E POTENCIAL BIOLÓGICO DA CASCA DA ALOE VERA L. (LILIACEAE).

DIANA FERREIRA ALVES

Co-autores: GÉSSICA SOARES CAVALCANTE, DIANA FERREIRA ALVES, CLÉCIO GALVÃO MARTINS, DANIELA RIBEIRO ALVES, ANA GLÁUDIA VASCONCELOS CATUNDA e SELENE MAIA DE MORAIS
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

XXXIII Encontro Nacional dos Estudantes de Química

Universidade Estadual do Ceará

01 à 07 de Fevereiro de 2015

 

Composição fitoquímica, atividade antioxidante e potencial biológico da casca da Aloe vera L. (LILIACEAE).

Géssica Soares Cavalcante1* (PG), Diana Ferreira Alves2 (IC), Clécio Galvão Martins2 (IC), Daniela Ribeiro Alves1 (PG), Ana Gláudia Vasconcelos Catunda (PQ)3, Selene Maia de Morais4 (PQ)

1. Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza-CE;

2. Graduação em Química, Universidade Estadual do Ceará, FortalezaCE;

3. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Jaguaribe-CE;

4. Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza-CE.

gessicascavalcante@gmail.com

 

Palavras-chave: Aloe vera. Prospecção fitoquímica. Atividade Antioxidante. Toxicidade. Artemia salina.

Resumo


          Diversas propriedades medicinais têm sido atribuídas ao Gel da Aloe vera, entretanto, poucos trabalhos investigam a composição química e atividades biológicas de extratos obtidos a partir da casca da A. vera. Objetivou-se, assim, realizar a prospecção fitoquímica da casca da A. vera, bem como conhecer sua atividade antioxidante e seu potencial biológico frente à Artemia salina. As folhas de Aloe vera, coletadas na Universidade Federal do Ceará, foram secas, trituradas e submetidas à extração de metabólitos secundários via Soxleth, utilizando solventes orgânicos de polaridade crescente - hexano, clorofórmio, acetato e metanol. Realizou-se a prospecção fitoquímica dos metabólitos secundários da casca das folhas de Aloe vera, seguindo a metodologia de Matos (1998). Para a avaliação da atividade antioxidante seguiu-se o método de varredura do radical livre 1,1-difenil-2-picril-hidrazil (DPPH), descrito por Brand-Willians, Cuvelier e Berset (1995). Calculou-se a CI50, concentração que inibe 50% dos radicais livres da solução. Para avaliar o potencial biológico, utilizou-se A. salina conforme descrito por Barbosa et al. (2009). As frações da casca da Aloe vera apresentaram fenóis, taninos flobafênicos flavononóis, esteroides, e saponinas em sua constituição química. A atividade antioxidante das frações da casca da A. vera, pode ser atribuída a presença dos compostos fenólicos nas mesmas, entretanto essa atividade apresentou-se fraca em comparação à rutina; enquanto que o ensaio biológico frente a Artemia salina indicou bioatividade dos compostos presentes na casca das folhas de A. vera, sugerindo, assim, a necessidade de maior investigação em relação a identificação e atividade biológica desses compostos.                          

 

Introdução


A Aloe vera L. (Aloe barbadensis Miller), pertencente a família Liliaceae, é uma planta tropical suculenta e perene, que desenvolve um tecido de armazenamento de água no interior de suas folhas, verdes e túrgidas, para sobreviver em zonas áridas de pluviosidade baixa ou irregular (FREITAS et al., 2012). Esse tecido parenquimático produz um gel de aspecto mucilaginoso e transparente, composto por 99% de água e o restante por polissacarídeos e compostos biológicamente ativos como vitaminas, minerais, aminoácidos, antraquinonas, açúcar, lignina, compostos fenólicos e ácidos graxos (BONDREAU; BELAND, 2006; JAWADE; CHAVAN, 2013).

Diversas propriedades medicinais têm sido atribuídas ao Gel da Aloe vera, tais como cicatrizante, antibacteriana, antifúngica, antivirótica, antinflamatória, hepatoprotetora, além de promover capacidade antioxidante (NADA et al., 2013). Esta última, está relacionada com a capacidade dos compostos naturais de proteger as células contra os efeitos danosos de radicais livres oxigenados formados nos processos oxidativos do organismo (MORAIS, 2007). Diversas doenças como o câncer, o mal de Parkinson e de Alzheimer, têm sido relacionadas com o stress oxidativo e geração de radicais livres, despertando o interesse na descoberta de compostos com essa característica (MORAIS, 2007).

Contudo, a presença de derivados antracênicos e antraquinonas como uns dos principais constituintes da folha de A. vera limita sua utilização via oral, sendo a ingestão de produtos derivados dessa espécie, não recomendada pela ANVISA (2011); uma vez que, esses compostos apresentam uma série de efeitos adversos, tais como nefrotoxicidade, hepatoxicidade, citotoxicidade e mutagênese (ANVISA, 2011).

Assim, estudos com plantas medicinais como a Aloe vera, são importantes ferramentas de identificação de substâncias biologicamente ativas, fazendo-se muito necessária, também, a realização de testes de toxicidade na busca de uma terapêutica eficaz (HOCAYEN et al., 2012). Uma das ferramentas mais utilizadas para a avaliação preliminar de toxicidade é o ensaio biológico de toxicidade frente à Artemia salina, a qual têm sido utilizada como um organismo alvo para detectar compostos bioativos em extratos de plantas e tem demonstrado uma boa correlação com a atividade citotóxica contra tumores humanos e atividade contra o Trypanossoma cruzi (Alves et al. 2000).

Poucos são os trabalhos que investigam a composição química e atividades biológicas de extratos obtidos a partir da casca da A. vera. Dessa forma, objetivou-se realizar a prospecção fitoquímica da casca da A. vera, bem como conhecer sua atividade antioxidante e seu potencial biológico frente à A. salina.

Metodologia


As folhas de Aloe vera foram coletadas na Universidade Federal do Ceará, campus do Pici, das quais separou-se duas porções, casca e gel. As cascas das folhas foram secas em estufa à 40º C, trituradas e submetidas à extração de metabólitos secundários via Soxleth, utilizando solventes orgânicos de polaridade crescente - hexano, clorofórmio, acetato e metanol. Assim, foram obtidas as seguintes frações: Fração Hexano da Casca da Aloe vera - FHCAV, Fração Clorofórmio da Casca da Aloe vera - FCCAV, Fração Acetato da Casca da Aloe vera - FACAV e Fração Metanol da Casca da Aloe vera - FMCAV.

Realizou-se a prospecção fitoquímica dos metabólitos secundários presentes nas frações da casca da Aloe vera, seguindo a metodologia de Matos (1998), que baseia-se na verificação visual de alterações colorimétricas e/ou surgimento de precipitado após a adição de reagentes específicos para a determinação dos compostos.

Para a avaliação da atividade antioxidante seguiu-se o método de varredura do radical livre 1,1-difenil-2-picril-hidrazil (DPPH), descrito por Brand-Willians, Cuvelier e Berset (1995). Em tubo de ensaio incubou-se 3,9 mL de uma solução metanólica de radical livre DPPH e 0,1mL de solução metanólica das frações diluídas nas concentrações de 10.000, 5.000, 1.000, 500, 100, 50, 10 e 5 ppm. O teste foi feito em triplicata. As absorbâncias foram determinadas em espectrofotômetro, no comprimento de onda de 515 nm, após 60 minutos de incubação, neste período as amostras permaneceram na ausência de luz e em temperatura ambiente. Calculou-se o índice varredor da amostra em percentual (IV%), a partir do qual obteve-se a CI50, concentração que inibe 50% dos radicais livres da solução. Utilizou-se a rutina como substância padrão.

Para avaliar o potencial biológico, utilizou-se Artemia salina conforme descrito por Barbosa et al. (2009). As frações foram diluídas nas concentrações de 1000, 100, 10 e 1 ppm em solução de água salina artificial e DMSO (1%), nas quais foram adicionados 10 náuplios de A. salina (48 horas após eclosão dos ovos). As amostras foram mantidas sob iluminação por 24 h, quando então contabilizou-se o número de indivíduos mortos e vivos. Calculou-se a concentração letal que elimina 50% do número de náuplios (CL50), considerando-se tóxicos valores de CL50 > 1000 µg/mL. Utilizou-se dicromato de potássio como droga padrão e solução salina + DMSO (1%) como controle negativo. Realizou-se triplicata.

 

 

Resultados e Discussão


Os testes fitoquímicos indicaram a presença de esteroides em todas as frações da casca de A. vera, exceto na fração metanol; saponinas nas frações FHCAV e FMCAV; flavononóis na FACAV e FMCAV; e compostos fenólicos em todas as frações, exceto FHLCP, tendo sido detectada na FMCAV a presença de taninos flobafênicos.

A maioria dos antioxidantes de plantas superiores são polifenóis, cuja propriedade antioxidante é conferida por suas propriedades de oxirredução, que os permite agir como redutores, doadores de hidrogênio e eliminadores de oxigênio singlete. Além disso, os compostos fenólicos também exercem influência na qualidade dos alimentos, aumentando assim o interesse nessa classe de compostos (MORAIS, 2007).

É possível relacionar a atividade antioxidante encontrada nas frações da casca da A. vera aos compostos fenólicos detectados nas mesmas, uma vez que a FHCAV, que não apresentou fenóis em sua composição química, apresentou a menor atividade antioxidante (CI50 = 68142,5 µg/mL) dentre as 4 frações. Como os compostos fenólicos tem maior afinidade por solventes orgânicos mais apolares, observou-se atividade antioxidante proporcional à polaridade do solvente utilizado na extração - CI50 da FCCAV = 30112,89µg/mL; CI50 da FACAV = 7477,94µg/mL e CI50 da FMCAV = 5741,84 µg/mL. Assim, a FMCAV apresentou maior atividade antioxidante, sendo, no entanto, uma atividade fraca em comparação à Rutina (CI50 = 13,74 µg/mL), flavonóide utilizado como padrão.

            Quanto à toxicidade, todos as frações apresentaram CL50 < 1000 µg/mL, sendo a FACAV menos tóxica (CI50 = 982,743µg/mL) e a FMCAV a mais tóxica (CI50 = 179,978µg/mL) dentre as 4 frações (CI50 da FHCAV = 464,291µg/mL; CI50 da FCCAV = 241,549µg/mL), e mesmo pra essa, pode se considerar baixa toxicidade, quando comparadas à  padrão, Dicromato de potássio (CL50 11,01 µg/mL).

Conclusão     


As frações da casca da Aloe vera apresentaram fenóis, taninos flobafênicos flavononóis, esteroides, e saponinas em sua constituição química. A atividade antioxidante das frações da casca da A. vera, pode ser atribuída a presença dos compostos fenólicos nas mesmas, entretanto essa atividade apresentou-se fraca em comparação à rutina; enquanto que o ensaio biológico frente a Artemia salina indicou bioatividade dos compostos presentes na casca das folhas de A. vera, sugerindo, assim, a necessidade de maior investigação em relação a identificação e atividade biológica desses compostos.

 

 

Referências


ANVISA. Informe Técnico n. 47, de 16 de novembro de 2011. Esclarecimentos sobre comercialização de Aloe vera (babosa) e suas avaliações de segurança realizadas na área de alimentos da Anvisa. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/c66ea5804924c8f49d829f14d16287af/Inform e_Tecnico_n_47_de_16_de_novembro_de_2011.pdf?MOD=AJPERES Acesso em: 18 de nov. de 2014.

ALVES, T.M.A.; SILVA, A.F.; BRANDÃO, M.; GRANDI, T.S.M.; SMÂNIA, E.F.A.; SMÂNIA JR., A.; ZANI, C.L. Biological screening of Brazilian medicinal plants. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.95, p.367-373, 2000.

BARBOSA, T.P.; JUNIOR, C.G.L.; SILVA, F.P.L.; LOPES, H.M.; FIGUEIREDO, L.R.F.; SOUSA, S.C.O.; BATISTA, G.N.; SILVA, T.G.; SILVA, T.M.S.; OLIVEIRA, M.R.; VASCONCELOS, M.L.A.A. Improved synthesis of seven aromatic Baylise Hillman adducts (BHA): evaluation against Artemia salina Leach. and Leishmania chagasi. European Journal of Medicinal Chemistry. v.44, 1726-1730, 2009.

BONDREAU, M. D.; BELAND, F. A. An evaluation of the biological and toxicological properties of Aloe barbadensis (Miller), Aloe vera. Journal of Environmental Science and Health: Part C - Environmental Carcinogenesis & Ecotoxicology Reviews, v. 24, p. 103-154, 2006.

BRAND-WILLIAMS, W.; CUVELIER, M.E.; BERSET, C.L.W. T. Use of a free radical method to evaluate antioxidant activity. LWT-Food Science and Technology, v.28, n.1, p.25-30, 1995.

FREITAS, P.A.B; BARBOSA, R.C; GONZAGA, H.G; CARDOSO, M.J.B; FOOK, M.V.L. Estudo físico-químico e térmico de blendas quitosana-aloe vera. Congresso Latino Americanos de e biomateriais (7), Natal - RN, 2012. Anais... 2012.

HOCAYEN, P. D. A. S.; CAMPOS, L. A.; POCHAPSKI, M. T.; MALFATTI, C. R. M. Avaliação da Toxicidade do extrato bruto metanólico de Baccharis dracunculifolia por meio do bioensaio com Artemia salina. INSULA Revista de Botânica, , n. 41, p. 23-31, 2012. Disponível em: <http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/insula/article/view/27583>. Acesso em: 30/8/2014.

JAWADE, N. R.; CHAVAN, A. R. Ultrasonic-Assisted Extraction of Aloin from Aloe Vera Gel. Procedia Engineering, v. 51, p. 487-493, 2013. Elsevier B.V. Disponível em: <http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1877705813000702>. Acesso em: 30/8/2014.

 

MATOS, F.J.A. Introdução à Fitoquímica Experimental. UFC: Fortaleza - Ceará, p.45, 1988.

 

MORAIS, S.M.; Antioxidantes Naturais, p.123-148, 2007. In: MORAIS, S.M;  BRAZ FILHO, R. (Org.) Produtos Naturais: Estudos Químicos e Biológicos, EdUECE: Fortaleza, p. 240, 2007.

 

NADA, A. S.; HAWAS, A. M.; ABD ELMAGEED, Z. Y.; AMIN, N. E. Protective value of Aloe vera extract against γ-irradiation-induced some biochemical disorders in rats. Journal of Radiation Research and Applied Sciences, v. 6, n. 2, p. 31-37, 2013. Elsevier Masson SAS. Disponível em: <http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1687850713000058>. Acesso em: 30/8/2014.

 

Agradecimentos


Ao CNPQ.