Resumo
Amostras de méis da abelha Apis mellifera L. e Mellipona Subnitida D., procedentes dos estados do Rio Grande do Sul e do Ceará foram analisadas quanto à possibilidade de adulteração através das Reações de Fiehe e de Lugol. A amostra oriunda do estado do Rio Grande do Sul era heterofloral e a amostra do Ceará era monofloral com predominância da planta marmeleiro preto (Croton sonderianus Muell. Arg). As amostras foram recebidas e conservadas à temperatura ambiente (27-30ºC) no Laboratório de Bioquímica e Biotecnologia (LABBIOTEC) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). As análises foram realizadas seguindo os procedimentos indicados e os resultados comprovaram que os méis apresentaram-se adequados ao consumo humano, não havendo presença de adulteração e com determinação qualitativa de proteínas nas amostras analisadas.
Introdução
A produção de mel existe praticamente em todo o território brasileiro. Porém, é na região Sul em que se tem a maior produção (42,5%), sendo o estado do Rio Grande do Sul o maior produtor nacional, detendo 18,4% da produção. A região Nordeste é a segunda maior produtora nacional, com 38,6% da totalidade, destacando-se o estado do Piauí, o quinto maior produtor nacional (IBGE, 2009).
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, através da Instrução Normativa 11, de 20 de outubro de 2000 - Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do mel (BRASIL, 2000) estabelece como requisitos de qualidade físico-química as análises de açúcares redutores, umidade, sacarose aparente, sólidos insolúveis em água, minerais (cinzas), acidez livre, atividade diastásica, hidroximetifurfural (HMF) e conteúdo de pólen.
O mel de abelhas tem se tornado uma importante fonte alimentar nos últimos anos. Prova disso é que em alguns locais do Brasil já é componente básico da merenda escolar de crianças que estão no ensino fundamental. Por outro lado, além de alimento, é bastante utilizado como fonte medicamentosa no combate a algumas enfermidades do corpo humano. É um produto biológico muito complexo, cuja composição varia notavelmente em função da flora visitada pelas abelhas e das condições climáticas e edáficas da região onde foi produzido. Estudos que caracterizem os méis das mais distintas localidades de produção são importantes para a formação de um banco de dados que possibilite estabelecer padrões que sirvam de referência para se inferir sobre aspectos de qualidade de tais produtos e, desse modo, proteger o consumidor contra produtos contaminados ou adulterados. A caracterização qualitativa dos méis, ou de qualquer alimento, é imprescindível como parte das estratégias de valorização do produto, pois confere uma identidade regional, além de agregar valor ao produto (BENDINI; SOUZA, 2008).
As abelhas que produziram o mel da amostra A - (Apis mellífera) não são nativas das Américas. No Brasil, na região Sul, os imigrantes europeus introduziram diferentes raças de Apis mellifera (Apis mellifera mellifera, Apis mellifera ligustica, Apis mellifera carnica, Apis melífera caucasica). Em 1956, o Professor Warwick Estevam Kerr trouxe rainhas africanas (Apis mellifera scutellata) para estabelecer um programa de seleção visando obter híbridos que apresentassem a mansidão das abelhas européias e a produtividade das africanas.
As abelhas da que produziram o mel da amostra B - (Mellipona subnitida D.) chamadas de jandaíras, são conhecidas como nativas ou indígenas sem ferrão, porém cabe aqui ressaltar que elas apresentam ferrão, mas é atrofiado, e por isso não as servem como meio de defesa. Sendo ela típica do sertão, forma ninhos em espécies vegetais típicas do semiárido nordestino como a imburana (Bursera leptophloeos), catingueira (Caesalpina pyramidalis) e cumaru (Dipteryx odorata), com importante papel nos nichos ecológicos da paisagem da caatinga, sendo responsáveis por 50% da polinização da flora silvestre.
Metodologia
Foram obtidas duas amostras de méis, uma de abelha Apis mellifera L. e a outra de Mellipona subnitida D., sendo a primeira da cidade de Sapiranga no Rio Grande do Sul e a segunda é oriunda do estado do Ceará. A amostra A é de origem heterofloral e a B tem como origem floral o marmeleiro. Foram realizados dois testes de caracterização nas amostras de méis, o primeiro foi o teste de Fiehe - onde se quantifica o Hidroximetilfurfural (HMF). Pesou-se 5g das amostras e colocou-se cada uma em um béquer de 50mL, em seguida adicionou-se 5mL de éter etílico na estufa e agitou-se vigorosamente. Transferiu-se a camada etérea para tubos de ensaio e deixou-se em repouso à temperatura ambiente até o éter evaporar. Para finalizar, adicionou-se ao resíduo da amostra A e B, 5 gotas de solução clorídrica de resorcina. O segundo teste é utilizado para a determinação qualitativa de proteínas, chamado de Teste de Lund. Pesou-se 2g das amostras e transferiu-se para provetas de 50 mL, com o auxílio de 20 mL de água. Adicionou-se água até 40 mL. Agitou-se e deixou-se repousar por 24 horas quando foi possível analisar o resultado.
Resultados e Discussão
Alcázar et al. (2006) afirmaram que o HMF é formado durante uma hidrólise ácida de hexoses, formado a partir de açúcares simples, como glicose e frutose que são quebrados na presença de ácido glucônico e outros ácidos do mel. Assim, a formação de HMF no mel é acompanhada por uma correspondente redução de açúcares simples a D-glicose. Esse composto está presente no mel em pequenas quantidades quando o mesmo é novo (próximas de zero), contudo, em condições de temperaturas elevadas ou de armazenamento prolongado (sob temperaturas ambiente), essa quantidade aumenta em uma velocidade muito rápida. Esse parâmetro (HMF) é o principal indicativo de qualidade do mel utilizado pelos compradores de mel em todo o mundo.
Em nenhuma das amostras houve alteração na coloração inicial, o que indica que os méis em análises não foram superaquecidos e estão dentro dos padrões da legislação. A Reação de Lund baseia-se na precipitação de proteínas pelo ácido tânico. Um depósito de 0,6 a 3,0 mL indica mel puro. O mel adulterado, não haverá deposição ou ele será desprezível. Depósito acima de 3,0 mL indica má qualidade. Na amostra A: 2,00 mL - Amostra B: 1,00 mL de proteínas. Ambas as amostras indicaram boa qualidade dos méis quanto à sua deposição de proteínas, porém o mel heterofloral (amostra A) apresentou uma maior quantidade de proteínas em sua composição.
Tabela 1: Resultados dos testes Hidroximetilfurfural e Lund.
MEL
|
FLORADA |
Hidroximetilfurfural (HMF) |
REAÇÃO DE LUND
|
AMOSTRA A Apis mellifera L. RIO GRANDE DO SUL
|
HETEROFLORAL SILVESTRE
|
NEGATIVO PARA MUDANÇA DE COLORAÇÃO |
2,00 mL |
AMOSTRA B Mellipona subnitidaD. CEARÁ |
MARMELEIRO PRETO (Croton sonderianus Muell. Arg).
|
NEGATIVO PARA MUDANÇA DE COLORAÇÃO |
1,00 mL |
Fonte: Tabela elaborada pela autora
Conclusão
As amostras analisadas não mostraram qualquer adulteração em relação ao primeiro teste. No segundo teste, foi determinada qualitativamente a presença de proteínas em cada uma das amostras, isto torna possível a verificação da qualidade do produto em relação a sua origem de coleta. Os méis mostraram boa qualidade, sendo indicados para consumo.
Referências
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. Produção da Pecuária
Municipal. disponível em:<http://www.ibge.gov.br>. acesso em: 20 ago. 2009.
BRASIL. Ministério da Agricultura e Abastecimento. Instrução Normativa n. 11. Diário Oficial da União,
23 de outubro de 2000, seção 1, p.16-17.
BENDINI, J.N.; SOUZA, D.C. Caracterização físico-química do mel de abelhas proveniente da florada
do cajueiro. Ciência Rural, Santa Maria, v. 38, n. 2, p. 565-567, mar./abr. 2008.
Agradecimentos
A Universidade Estadual do Ceará