Este trabalho objetiva analisar a produção científica de médicos cearenses sobre o tratamento das doenças nervosas publicados entre 1913 a 1940. Nesse período, ocorreu a organização do campo profissional médico em Fortaleza, a circulação de periódicos médicos locais e a fundação da Casa de Saúde São Gerardo, instituição privada destinada a terapêutica das doenças nervosas, das psicopatias e das toxicomanias. Como metodologia, realizou-se uma pesquisa em fontes primárias: revistas e teses médicas, jornais locais e anúncios publicitários. Buscou-se também dialogar com referências e pesquisas que tratam sobre a inserção dos "saberes psi" no Brasil. Como resultado constatou-se em Fortaleza o interesse médico pelas práticas terapêuticas como a psicoterapia para a histeria e para a neurastenia, bem como a convulsioterapia e o método de Sakel para a esquizofrenia. As publicações médicas sobre as doenças mentais intensificaram-se após a fundação da Casa de Saúde São Gerardo em 1935 sob responsabilidade dos médicos Vandick Ponte e Jurandir Picanço. O principal veículo dessas publicações era a Revista Ceará Médico. Enquanto Vandick Ponte dedicou-se a publicar artigos sobre higiene mental como procedimento profilático as doenças mentais, Jurandir Picanço escreveu artigos sobre as novas terapêuticas e as políticas de saúde mental. Dentre os autores europeus citados pelos médicos cearenses destacaram-se os nomes de Charcot, Bernheim, Janet e Freud. Autores nacionais como Antonio Austregésilo e Artur Ramos também foram citados. A psicoterapia era compreendida como um ramo da terapêutica médica e recém-científica, distinta de práticas empíricas como o misticismo e o mesmerismo. O método de Sakel ou choque insulínico e a convulsioterapia eram recomendados como tratamentos eficazes da esquizofrenia por apresentarem resultados empíricos. Concluir-se que a cientificidade e a racionalidade eram as marcas de distinção da psicoterapia e dos tratamentos interventivos em contraste com as práticas de cura populares e de reclusão asilar. O interesse médico por tais procedimentos terapêuticos não se limitava ao estudo teórico, mas serviam como referência prática frente aos padecimentos nervosos da vida urbana.