Simpósio Temático: História, Memória e Oralidade
Titulo: Navegar é preciso; sem memória, impossível
Autor: Gerson Augusto de Oliveira Junior
Email: gersonaugustojr@terra.com.br
O presente trabalho tem como objetivo compreender a importância da memória e da oralidade na transmissão dos saberes na prática da pesca artesanal marítima, tal como é exercida entre os pescadores Tremembé residentes em Almofala, distando cerca de 270 km de Fortaleza- CE. Assim sendo, é necessário considerar que no processo de apropriação dos recursos pesqueiros, os pescadores realizam uma divisão do espaço marítimo, delimitando os locais de pescaria e estabelecendo pontos de referência para orientação das rotas náuticas. O mar possui divisões, marcas e caminhos, os quais os pescadores cruzam cotidianamente nas suas viagens de pesca. Dependendo da embarcação utilizada e dos peixes que pretendem capturar podem passar vários dias distantes de casa. Canoas, paquetes e botes a vela são extremamente vulneráveis aos fenômenos naturais. Logo, os conhecimentos sobre os hábitos alimentares dos peixes, os ventos, as fases da lua e sua relação com as marés, as rotas náuticas, o manuseio dos instrumentos de captura etc. são de fundamental importância para o exercício da navegação e da pesca. De modo geral, os instrumentos de pesca são facilmente encontrados no universo familiar dos pescadores. Tarrafas, caçoeiras, linhas e anzóis misturam-se com outros objetos utilizados no cotidiano doméstico. Desde tenra idade os meninos se habituam a conviver com o mar, bem como com os afazeres e saberes inerentes à atividade pesqueira. Freqüentemente, andam pela praia entre os pescadores, ajudam na hora do desembarque, levando os peixes, as redes, anzóis, linhas ou qualquer outro instrumento que possam carregar. Inexiste uma idade específica para que um principiante embarque para participar de uma viagem de pesca, mas quase sempre a sua iniciação ocorre sob a orientação de um membro da família, isto é, o pai, um irmão, um tio, um cunhado ou um primo, mas sempre e invariavelmente um pescador com uma larga experiência no exercício da atividade pesqueira. Os saberes sobre a navegação e a pesca são transmitidos oralmente no âmbito familiar e encontra na figura do mestre seu principal guardião. A experiência e o saber dos quais o mestre é guardião lhe conferem uma posição privilegiada na hierarquia dos pescadores. A realização da pesquisa teve como base o método etnográfico, o que incluiu minha participação nas pescarias e a coleta de relato orais dos pescadores.