CORPO DOENTE X CORPO SAUDÁVEL: O IDEAL DE CORPO, SAÚDE E BELEZA NOS ALMANAQUES DE FARMÁCIA DAS DÉCADAS DE 1930 E 1940.

GABRIELA FERREIRA BARBOSA

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

Corpo doente X corpo saudável: o ideal de corpo, saúde e beleza nos almanaques de farmácia das décadas de 1930 e 1940.

Gabriela Ferreira Barbosa

gabrielafbr@hotmail.com

O objetivo da pesquisa é analisar de que modo as indústrias farmacêuticas, através dos almanaques de farmácia, passaram a divulgar os ideias de corpo, saúde e beleza propostos pelo projeto político-cultural do governo Vargas. Desse modo, tentamos traçar uma rede que liga o discurso das autoridades governamentais e do saber médico e farmacêutico entre os anos de 1930 a 1945.

Os almanaques de farmácia eram "pequenos livros" de edição anual que, sendo produzidos por laboratórios farmacêuticos, trazem como proposta central a publicidade dos produtos fabricados por tais laboratórios: remédios, elixires, pomadas, tônicos, sabonetes, entre outros. Tem um caráter popular por serem de leitura fácil e dinâmica, com muitas ilustrações, além de informação, entretenimento e também o fato de serem distribuídos e não vendidos, o que torna sua qualidade, com referência ao papel utilizado na fabricação, inferior aos demais livros. Esses almanaques aparecem, no Brasil, no final do século XIX e ganham bastante destaque nas primeiras décadas do século XX.

A linguagem publicitária do almanaque de farmácia é, na maioria das vezes, a representação de um modelo e um anti-moldelo, isto é, mostra-se o corpo doente e, em seguida, o corpo saudável, bem como a maneira de obter a saúde do corpo: utilizando os produtos dos laboratórios farmacêuticos.

Reforçando esse discurso, os almanaques de farmácia intensificavam a ideia de que o corpo, por sua própria natureza, não seria capaz de gerar as forças necessárias para o bom desempenho de suas funções: no homem a força para o trabalho e na mulher a beleza, e que, assim sendo, necessitaria do auxilio dos tônicos fortificantes produzidos pelos laboratórios farmacêuticos, no caso dos homens e dos produtos cosméticos e reguladores, no caso das mulheres. Para isso, parte do trabalho se dedica a entender o ambiente propício às ciências médicas e farmacêuticas que se intensificava no país desde o fim do século XIX, mas principalmente a partir do início do século XX, em que o saber médico pretendia se sobrepor ao saber popular.

Cabe nessa reflexão entendermos de que modo o discurso contido nos livretos pretendia ser científico e, ao mesmo tempo, chegar ao máximo de público possível, lembrando que o índice de analfabetismo no Brasil desse período ainda era bastante alto. Para tanto, é preciso que analisemos a linguagem utilizada nessa publicidade, que usava mais imagens do que textos.  Para embasar essa análise aqui proposta, faz-se necessário, sobretudo, que entendamos o corpo, nesse caso do trabalhador, não apenas no seu sentido biológico, mas como algo carregado de significados e marcas históricas, fazendo dele um "objeto" importante nas reflexões sobre natureza/cultura.