O presente trabalho tem por objetivo refleti sobre a experiência da comunidade de Oiticica, distrito do Município de Ibaretama, no Sertão Central cearense, com as questões relacionadas ao imaginário acerca da morte e das almas que permanecem entre os vivos, no período que compreende a segunda metade do século XX. A presença dos mortos reivindicando orações e pagamento de promessas é algo que permeia a tradição nordestina, assim como também existem indícios em outras épocas e sociedades, não apenas de mortos pedindo orações, mas também dos mortos sanguinários que retornariam para pedir vingança pela sua morte e muitas outras reivindicações. Com a criação do purgatório a Igreja católica cria um terceiro local para as almas pecadoras que possam ter a chance de regeneração para buscar o reino dos céus, nesse sentido as almas puras recebem as bênçãos do paraíso e são encaminhadas para o céu, às sem perdão sofrerão eternamente no fogo do inferno suportando suas terríveis penas, e aquelas com chances de regeneração são encaminhadas para o purgatório. Atender aos pedidos dessas almas é ajudá-los na caminhada pela expiação dos pecados e, ao mesmo tempo, ficar de bem com aquele espírito que continua preso ao mundo dos vivos na busca do seu caminho. Em Oiticica essas almas se manifestam através da "Maldizença", uma crença que consiste em vozes, choros e lamentos das almas que permanecem entre os vivos para fazer suas reivindicações. Nesse sentido é que nos utilizamos da metodologia da História Oral no sentido de perceber na subjetividade de cada sujeito esses indícios do pensamento ocidental cristão entorno das questões acima citadas. Considerando que a percepção do mundo está intimamente ligada à forma como apreendemos a realidade, e essa apreensão leva a marca das relações estabelecidas em sociedade, portanto o passado é composto por essa rede de significados atribuídos a ele, nesse sentido a memória se torna essencial para nossas reflexões.