O CÓLERA E SEUS TRAJETOS EM QUIXERAMOBIM, 1862-1863

MAYARA DE ALMEIDA LEMOS

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

A epidemia de cólera em Quixeramobim se iniciou no dia dois de maio de 1862 na localidade Quaty, chegando à sede do Município no dia 24 do mesmo mês. A partir de então são registrados períodos de intervalos e recrudescimentos até que em 1863 é extinta na cidade, deixando um saldo de 230 mortos em uma população estimada em 15 mil almas[1]. Abordar os trajetos da referida epidemia na cidade de Quixeramobim é o caminho escolhido para compreender de que formas esta cidade, descrita pelo presidente José Bento da Cunha Figueiredo Junior como extensa e paupérrima a maior parte de sua população, vivenciou e se relacionou com a doença, considerando-se a força do terror como motor das ações humanas e a desagregação social promovida por uma epidemia. As representações veiculadas em Quixeramobim mantinham estreita relação com as provenientes no restante do Império brasileiro, e no mundo, enraizadas na crença medieval e cristã que identificava as doenças como castigo divino, estas se traduziam nas metáforas que denominavam o cólera como anjo do extermínio, judeo errante, cruel flagello e monstro cruel, porém, as diferentes realidades conduzem a interpretações próprias de cada local, que se manifestam nas práticas efetuadas pelo poder público e pela população na "luta" contra a doença. É preciso considerar ainda as filiações político-partidárias dos jornais consultados, especialmente naqueles em que as correspondências de Quixeramobim eram publicadas, que eram O Cearense e Gazeta Official, ambos veiculadores dos ideais do Partido Liberal, do qual o vigário local, também membro da Comissão de Socorros, e redator de algumas correspondências referentes ao cólera, Cônego Antonio Pinto de Mendonça, era o principal representante na região do sertão central. Assim, é perceptível que os discursos provenientes de Quixeramobim, por vezes tencionavam a defender o Presidente da Província de acusações feitas pelos opositores do Partido Conservador, que tinha como porta-voz o jornal Pedro II, com essa tentativa de defesa, através de demonstrar que o governo agiu de forma rápida e eficaz, a própria população local é responsabilizada pelo adoecimento, com uma junção de fatores envolvendo a ira divina e a falta de cuidados com higiene, alimentação, bem como a demora em buscar o auxílio médico.


[1] O Cearense, 13.03.1863. Anno XVII. A Pedidos, p. 01.