Este artigo tem como objetivo investigar a construção das memórias sobre o culto religioso à Cruz da Baixa Rasa, localizada na Floresta Nacional do Araripe - FLONA, zona rural do Município de Crato, no Sul do Ceará. A Baixa Rasa constitui uma representação à memória de um vaqueiro que de acordo com a tradição oral dos devotos da Cruz, numa das secas que atingiu a região em fins do século XIX, teria se perdido e morrido de sede e fome a dois quilômetros da "maior fonte da Bacia Sedimentar do Araripe". No local de seu padecimento foi erguida uma cruz, e a partir do ano de 1914 depois da obtenção de algumas graças cristãos, grupos folclóricos e vaqueiros passaram a cultuar a cruz do vaqueiro todo dia 25 de janeiro. Logo, selecionamos como sujeitos do trabalho os vaqueiros que participam da romaria e os devotos da Cruz da Baixa Rasa, visto que muitos dizem já terem obtido milagres através da intercessão da "cruz milagrosa". Para o trabalho, utilizaremos os procedimentos metodológicos da história oral, ancorados na perspectiva teórica da história cultural. Como o tempo da memória é subjetivo e social optamos por não estabelecer uma restrição temporal. E é com base neste cenário de fé e devoção, que fizemos os seguintes questionamentos: Como se deram as construções da morte do vaqueiro na memória dos narradores? Quais os mecanismos de apropriação do culto religioso e da romaria dos vaqueiros? Como os meios de comunicação discutem a romaria? Estes pontos são válidos e pertinentes para o desenvolvimento deste trabalho, pois a construção de conhecimentos relacionados à transmissão oral dos sujeitos sobre os significados e as apropriações do culto à Cruz da Baixa Rasa é de grande relevância para a compreensão da relação entre morte, memória e religiosidade no Cariri cearense.