HISTÓRIA E MEMÓRIA ORGANIZACIONAL

MARININA GRUSKA BENEVIDES

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

O ano de 1984 foi o cenário da consolidação da abertura política e do movimento pelas eleições diretas para a Presidência da República. Também foi o cenário no qual foi instituída a Comissão de Reordenamento das Finanças Públicas brasileiras. Segundo o diagnóstico da referida Comissão, o fracasso no controle da inflação estava na conta movimento do Banco do Brasil S.A. Entendia-se que tal conta impedia o Banco Central de exercer as atividades que lhe eram típicas, tais como as de caixa do Tesouro Nacional, depositário fiel das reservas do sistema bancário e supridor de moeda. Foi, então, posta em prática a proposta de separar as contas do Tesouro Nacional, do Banco Central e do Banco do Brasil, mediante o fim da conta movimento. Com isto, foi redefinido o perfil institucional. O Banco precisou se adequar administrativa e estruturalmente para competir com o setor privado, na captação de recursos e no exercício de atividade, típicas de um banco de mercado. As reformas administrativas do Governo Collor, em 1990, que deram início ao amplo redesenho interno, cujo momento mais marcante para o corpo funcional foi o mês de julho de 1995, quando se decidiu pelo "enxugamento" do quadro de pessoal, mediante o Programa de Demissão Voluntária. Foi quebrada a tradição organizacional de estabilidade no emprego, a qual existia de fato, embora não existisse de direito, considerando que a situação dos funcionários era regida pela Consolidação das Leis Trabalhistas. O reajuste do quadro funcional foi combinado com a adoção de novos modelos de gestão, baseados no toyotismo. Ao invés do típico burocrata weberiano, os funcionários tiveram que encarnar a figura de profissionais flexíveis às demandas do mercado e competitivos na relação com a concorrência. A pesquisa empreendida no intuito de compreender o processo de transformação do Banco do Brasil S.A., no período que vai de 1984 a 2000, empresta uma versão histórica para o período estudado, construída num diálogo entre memórias dos funcionários e os documentos produzidos pela empresa e pelo movimento sindical. A versão história construída na pesquisa revela a permanência problemática da  dualidade entre o público e o privado que acompanha o Banco do Brasil S.A. desde sua fundação. No período da pesquisa os mecanismos de justificação da ideologia neoliberal associaram a destruição de suportes sobre os quais se assentavam as identidades dos funcionários com tentativas de aniquilamento da memória organizacional.