HISTORIA, CULTURA E MUSICA
TRABALHO: "NARRADORES-COLECIONADORES" E TRÊS CANÇÕES DO REI ROBERTO CARLOS: JUVENTUDE, REBELDIA E CONCILIAÇÃO EM "QUERO QUE VA TUDO PRO INFERNO", "À JANELA" E "O DIVÃ".
EDMILSON ALVES MAIA JUNIOR - edmilsonjunior@ibest.com.br
Meu principal objetivo com esse trabalho será debater a circulação e significações das ideias de juventude, rebeldia e conciliação em tres canções do artista Roberto Carlos: "Quero que Va Tudo pro Inferno", lançada em 1965 no LP Jovem Guarda, "À Janela" e "O Divã" lançadas no LP Roberto Carlos de 1972. Foram os entrevistados de minha pesquisa de doutorado, colecionadores da obra do cantor, que destacaram essas canções como essenciais na sua adesão ao "mito' do "Rei". As musicas apareceram como centrais nas falas desses "fãs-militantes" que constituíram algum tipo de militancia pró-Roberto Carlos através de memórias sobre o artista. Admiradores que montaram acervos, virtuais ou não, coleçoes inteiras com milhares de videos, revistas, jornais, fotos, discos etc; ou que disponibilizam videos e outros materiais na internet; ou que fazem (e acompanham) programas de rádio exlusivos sobre o cantor. "Suditos" obstinados e leais atraves da constituição de "documentos-monumentos" para "seu' Rei. As tres cançoes, portanto, foram escolhidas para a análise porque foram literalmente citadas nas entrevistas como marcos simbólicos nas trajetorias dos colecionadores uma vez que carregam valores centrais do mito Roberto Carlos para eles. O que debaterei tambem atraves de outras fontes sobre as canções que permitem uma interpretação dos sentidos politicos e culturais das musicas como textos constituintes de suas épocas. Procuro estabelecer um dialogo entre as diversas fontes sobre as canções para entender as ditas musicas no espaço público dos anos 1960 e 1970 e enquanto suporte de ideias e significados que até hoje permanecem nas elaborações de memorias sobre o "Rei" Roberto Carlos. As cançoes, portanto, sao estudadas como fazendo parte de uma rede de representações sobre a trajetoria e o papel do artista na sociedade brasileira. As musicas em questão são emblematicas para percebemos a mobilização de um imaginario sobre um "rei' que para seus fãs-militantes simbolizou nos anos 1960 as primeiras ideias de juventude, rebeldia e inovação com a musica "Quero que va tudo pro Inferno". O mesmo "rei" que ainda jovem, aos 31 anos, olhou para trás, para o passado dificil e cantou em musicas como "O Divã" e "A Janela" as suas mais profundas angustias, incertezas e perdas, promovendo catarse e conciliação nos anos 1970 cantando suas dores mais íntimas e se consolidando ainda mais entre os fãs-colecionadores como um mito a ser seguido admirado e cujas reliquias de sua trajetoria unica e exemplar devem ser recolhidas e guardadas.