É grande o impacto da instalação da fábrica Santa Cecília no bairro Montese. Ali, uma complexa cartografia é constituída, não por técnicos e engenheiros, mas pela intervenção operária que adentra os vários espaços ocupados ou não pela fábrica. Cotidianamente, homens e mulheres percorrem caminhos, transformando-os através do trabalho, de suas vivências. As contradições que envolvem suas vidas são apreendidas de forma que os levam ora a adentrar à lógica da produção fabril, ora a resistir a ela, na feitura de uma cultura operária. Heterogênea, era a classe que ali se constituía. Empregam-se na fábrica, elaboram seus panfletos, vivem e reclamam a precariedade do cotonifício ao longo de sua existência: água ruim, alimentação à base de pão, atraso do salário - fazem mover uma importante rede comercial ao redor da fábrica. Ali, as operárias vivem sob os termos da Família Unitêxtil, que lhes concedia casa, escola para suas crianças, clube dançante, além de terem de fácil acesso a serviços de saúde e lazer na sede do Serviço Social da Indústria (SESI), localizado na concomitância da fábrica. Era ali também que, sutilmente, elas resistiam e rearranjavam sua existência cotidiana nos momentos de falência do cotonifício. Compra-se fiado na mercearia, exige-se o pagamento da quinzena salarial atrasada, fazem greve para diminuir a jornada de trabalho. Tornam-se sujeitos. Neste sentido, para a pesquisa em curso empregamos a metodologia da história social do trabalho, e utilizamos como fontes, os jornais: O Povo, O Montese; relatórios do serviço social da Santa Cecília, Sine, Senai, IBGE e FIEC; além de entrevistas, registros de memorialistas e da junta Comercial do Estado do Ceará.