Mundo do Trabalho: Classe, Cultura e Trabalho na História
Autor: Gerson Augusto de Oliveira Junior
Email: gersonaugustojr@terra.com.br
Velas e motores no mar de Almofala: os pescadores Tremembé e a indústria lagosteira na década de 1960
O presente trabalho tem como objetivo analisar o processo de industrialização na atividade pesqueira no Estado do Ceará na década de 1960, tendo em vista compreender as mudanças ocorridas na prática da pesca artesanal marítima realizada pelos índios Tremembé, localizados em Almofala, distando cerca de 270 km de Fortaleza-ce. Para tanto, é preciso considerar que a década de 1960 correspondeu ao período de desenvolvimento da pesca industrial no Brasil, no qual ocorreu um amplo incentivo governamental visando à expansão das empresas especializadas e ao maior aproveitamento do potencial dos recursos pesqueiros da costa brasileira. No Ceará, esse processo deu ensejo ao incremento da pesca da lagosta, que já vinha sendo desenvolvida desde meados dos anos cinqüenta com acentuada atuação de pescadores artesanais em botes e jangadas. Empresas de captura e beneficiamento foram instaladas em Fortaleza, visando à crescente demanda do mercado internacional, notadamente dos Estados Unidos e da Europa. Os empresários cearenses procuraram investir na aquisição de barcos motorizados, os quais possuíam equipamentos que permitiam uma maior autonomia no mar e melhor conservação da produção. Houve uma significativa ampliação das áreas de captura, a pesca passou a obter uma maior produtividade. Logo, o Ceará despontou como o maior exportador de lagosta do Brasil. Com a expansão do parque industrial pesqueiro e das áreas de captura da lagosta no litoral cearense, Almofala foi incluída na rota dos barcos motorizados. Não demorou muito para que os pescadores Tremembé fossem arregimentado para trabalhar na emergente indústria pesqueira, o que implicou, entre outras coisas, na inserção dos mesmos no universo de relações patronais formalizadas, com salários e jornadas de trabalho definidas pelas empresas. Ou seja, os pescadores Tremembé passaram a vivenciar relações de trabalho que diferiam radicalmente daquelas que estavam acostumados a experimentar no âmbito da pesca artesanal, cuja principal característica diz respeito às relações de trabalho definidas no grupo familiar. Por outro lado, é necessário destacar que tradicionalmente na pesca artesanal os pescadores definiam o período em que deveriam permanecer no mar, bem como confeccionavam suas embarcações e instrumentos de captura. A pesquisa foi realizada com base no relato dos pescadores e nos jornais cearenses que circulavam em Fortaleza na década de 1960.