SAÚDE E DOENÇA NO LUNÁRIO PERPÉTUO

ALINE DA SILVA MEDEIROS

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

A proposta de se escrever uma história dos remédios que circularam no Ceará no início do século XX aciona inevitavelmente um conjunto extremamente amplo e variado de registros que flagram a existência desses objetos, na maioria das vezes apenas cintilados em textos oficiais e literários, memórias, jornais. É a natureza própria dos remédios, cujas existências são tão efêmeras e em trânsito incessante, que explica suas aparições frequentes e ao mesmo tempo tímidas em boa parte dos registros sobre o Ceará do período entre séculos. Presença constante, pois estão sempre lá. Mas lacônica, já que, por si só, dizem muito pouco. Nesse sentido, flagrar e inventariar os remédios de antanho nos mais diversos registros não constitui exercício suficiente para compreender os sentidos conferidos a estes objetos. Para se tomar nota sobre as formas de existência dos remédios, ou ainda sobre os componentes acionados nas relações com os remédios, estabelecemos como estratégia metodológica o estudo de livros de receitas ou manuais de saúde autoinstrutivos que circularam em paragens cearenses durante o período em apreço.

Dentre os livros de que tivemos notícia que circularam no Ceará no início do século XX, ganha destaque, dentre muitos outros, o Lunário Perpétuo, sobre o qual iniciaremos este exercício de compreender os remédios a partir dos livros, e também os livros a partir dos remédios. O Lunário Perpétuo conheceu várias edições portuguesas desde o século XVIII até o século XX. Livro de consulta sobre os mais variados aspectos da vida, em especial, a vida rural, o Lunário apresentava diversas seções dedicadas aos cuidados com a saúde. Esta comunicação pretende trazer alguns elementos a respeito destes cuidados propostos pelo Lunário - práticas, modo de realizá-las, conselhos a serem seguidos, riscos e expectativas etc. Destacam-se, desde já, as orientações astrológicas e religiosas a reger as lides com o corpo. Orientações consideradas antigas, a astrologia e a verdade religiosa da Contra-reforma irão conviver num mesmo impresso com prescrições da medicina moderna, em especial, daquelas do grande livro Chernoviz, como a indicar que a circulação dos diversos saberes relativos ao corpo conheceu uma ampla variedade e possibilidades combinatórias até então insuspeitas.