Os capoeiristas cearenses se destacam no cenário mundial da Capoeira, mas muito de sua gênese, em Terras Alencarinas, está obscura. Essa manifestação cultural é bastante pesquisada em alguns estados brasileiros e em alguns países, porém no estado do Ceará não há uma produção bibliográfica suficiente para a construção de um corpus documental substancial. Essa expressão da cultura popular se constitui em um processo cultural em que prevalece a transmissão oral de saberes. A presente pesquisa revisita as memórias, vivências cotidianas e os saberes dos Mestres de capoeira cearenses no intuito de detectar algumas de suas contribuições entre as décadas de 1980 e 1990. Esse estudo terá como corpus metodológico duas fontes principais. A primeira, bibliográfica, fundamentada em Campos (2001), Ferreira Neto (2011), Rego (1968), Silva (2010), Soares (2002) e Vieira (1998). A segunda é um estudo de natureza qualitativa, do tipo etnográfico, amparada em Mendes (2010), e com o emprego da técnica da História Oral, fundamentada, sobretudo, em Montenegro (2010). Segundo Queiroz (2011), na década de 1980, só havia dois grupos de capoeira em Fortaleza, a saber, Senzala e Zumbi. Neste apareciam nomes como Espirro Mirim, Geléia, Jean, Soldado, Lula, Ulisses e naquele, figuras como Paulão, Canário, Dingo, Gamela, Araminho, Gurgel. Os quase vinte anos de imersão pessoal nesse universo, possibilitam apontar os mestres Paulão do Ceará e Espirro Mirim como dois nomes de grande referência no Ceará, no Brasil e no exterior, os mesmos figuram nessa pesquisa como sujeitos. O texto final constitui-se em um diálogo entre as informações obtidas nas referências bibliográficas consultadas e o corpus documental produzido por meio da história oral da vida dos mestres entrevistados. Seu saber oferece a manutenção viva da memória do conjunto de conhecimentos não formais, não institucionalizados e que compõem e mantém viva a consciência coletiva ritualística e ancestral dessa prática cultural, remetendo ao entendimento de Le Goff (2003) que constantemente defende a pesquisa da memória do homem comum, das recordações e histórias locais. Concluiu-se, ao final do trabalho, que este é só um de muitos passos que precisam ser dados para que se registre a História da Capoeira do Ceará e suas contribuições.