MEMÓRIA E RESISTÊNCIA: PATRIMÔNIO CULTURAL E INSURGÊNCIA POLÍTICA ENTRE OS TREMEMBÉS DE ALMOFALA.
Renata Lopes de Oliveira[1]
A população Tremembé de Almofala alcançou visibilidade, no cenário local, como um grupo indígena, a partir dos elementos culturais que eles conseguiram preservar e reelaborar ao longo do tempo. Estes foram incorporados como sinal diacrítico, marcados da etnicidade, no contexto das políticas públicas para os povos indígenas do Nordeste, na década de 1970. Nesse sentido, o presente trabalho apresenta uma discussão sobre a utilização do patrimônio cultural no contexto de luta pela afirmação da identidade. O objetivo é compreender como os Tremembés têm se apropriado dos seus bens culturais, fortalecendo e visibilizando as narrativas em torno deles e mobilizando essas discussões para o fortalecimento da luta. Para tal, nos utilizamos de entrevistas-narrativas realizadas com lideranças da comunidade, no período de junho de 2014 a junho de 2015, e do levantamento bibliográfico em torno dessa etnia. Observamos que elementos como o ritual do Torém, a Igreja Nossa Senhora da Conceição de Almofala, a relação que eles estabelecem com o mangue, o mar e as matas são mobilizados para legitimar e fortalecer a identidade indígena. Outro bem cultural enfatizado nessa afirmação é a espiritualidade, a relação dos vivos com os encantados, esses últimos podem ser os antepassados ou espíritos da natureza. Para a compreensão dessa problemática nos aproximamos do conceito de lugares de memória, que segundo o historiador Pierre Nora são lugares híbridos, nos quais se opera uma junção entre história e memória, locais em sentido material, simbólico e funcional simultaneamente. Que podem variar de estruturas extremamente concretas como um edifício a algo extremamente simbólico como um minuto de silêncio. Pensando o caso Tremembé pode variar de um edifício religioso, a Igreja Nossa Senhora da Conceição, a algo praticamente conceitual os encantados, seres sobrenaturais que habitam a natureza ou os antepassados. Para Nora, esses locais nascem da necessidade presente de rememorar o passado. Nessa trajetória de pesquisa nos aproximamos ainda do conceito de memória subterrânea de Michel Pollak, uma vez que tratamos de um grupo social que historicamente foram marginalizados, e cujo objetivo do estado nacional era dissolver sua identidade indígena e assimilá-los à uma identidade nacional brasileira. Por fim, constatamos que a preocupação de investir nesses bens culturais é uma problemática presente entre a etnia e a escola Tremembé tem captado para si parte dessa função.
Palavras-chaves: Memória. Tremembé. Política. Cultura.
[1] Professora da educação básica, mestre em Educação Brasileira e graduada em História ambos pela Universidade Federal do Ceará. renatalopesh@gmail.com