Uma infância no limite: o ser criança no relato memorialístico de Luiz Alberto Mendes.
Alarcon Agra do Ó
Palavras Chave - Memória - Violência - Infância
Luiz Alberto Mendes nasceu em 1952, na Vila Maria, em São Paulo, cidade na qual vive hoje, atuando na imprensa e na literatura. Mendes se envolveu desde muito cedo em atividades socialmente demarcadas como criminosas, a cada passo sofisticando seus atos e tornando-se mais experiente nas transgressões. O aparato punitivo, no entanto, esteve sempre à sua frente, e por um sem número de vezes foi capturado. Tudo se tornou ainda mais difícil e tenso quando foi condenado a mais de cem anos de prisão por assalto à mão armada e homicídio. Tendo em vista os limites colocados pela legislação penal brasileira, ele foi solto após pouco mais de trinta anos de pena. Em meio a uma oficina literária proposta pelo escritor e dramaturgo Fernando Bonassi, Mendes apresentou os originais de um livro de memórias, o qual logo foi publicado pela prestigiosa editora Companhia das Letras - trata-se de Memórias de um sobrevivente, de 2001. A este livro seguiram-se outros, e ele chegou a ser finalista do prêmio Jabuti em 2006 com outro volume memorial, intitulado Às cegas. Os livros que escreveu abriram para Mendes a possibilidade de uma espécie de linha de fuga em relação ao destino quase comum dos que sobrevivem ao aparato carcerário brasileiro. A partir da sua condição de autor ele pode tramar outras relações, experimentar uma visibilidade midiática favorável, manter-se e reconstruir sua vida para além das possibilidades abertas pelo crime. Pretendo destacar as lembranças daquele ex-presidiário convertido em escritor, acerca de sua vida de menino, focando no período entre os seis e dez anos.