Uma pequena folha cartonada, de tamanho A5, os certificados emitidos pelos órgãos de Censura eram os últimos dos elementos de uma série documental extensa. Antes da sua emissão, autorizando a veiculação de uma publicidade, por exemplo, formulários, notas fiscais, recibos de depósito, guias representativas de entidades, declarações de "Nada Consta" e outros registros eram adensados em processos e remetidos à Divisão de Censura de Diversões Públicas, órgão responsável, a partir de 1972, pela análise dos processos de Censura Prévia. Dessa série documental que desemboca nos certificados que autorizavam a veiculação das produções culturais, desejamos aqui analisar apenas um registro. Trata-se dos formulários de "Requisição de Censura", um documento oficial, composto por 3 blocos de questões (Análise, conclusão e esclarecimento das sugestões de cortes), aonde o censor, anotava as suas impressões sobre os pedidos de liberação que analisava. O que nos interessa, ao tratar dessa tipologia documental, é, a partir das marcas que o documento traz, provocar um deslocamento do olhar para a observação daquilo que era o imprevisto, daquilo que, a rigor, não cabia na estrutura do formulário. Intentamos com esse trabalho, portanto, pensar as possibilidades metodológicas que nos ajudam a explorar "região opaca" do documento.