Este trabalho tem como objetivo analisar casos de bigamia na capitania do Ceará durante a segunda metade do século XVIII, a fim de entender as motivações para se contrair um segundo casamento em "face de Igreja" e de que "estratégias" os sujeitos históricos se valiam para realizar um novo matrimônio, sendo a primeira mulher ainda viva. Propõe-se também com esse trabalho auxiliar na compreensão da dinâmica em torno da atuação da Igreja Católica em seus múltiplos organismos de vigilância e de controle da população e uma aproximação com o cotidiano católico vivido pela população dos Sertões do Norte. Dentre esses mecanismos coercitivos sobressaem à ação dos "funcionários eclesiásticos" dos tribunais eclesiástico e inquisitorial, especialmente o último por ter diretamente atuado nos casos de bigamia. Ademais, com o presente estudo observa-se a estrutura das famílias, as relações dos sujeitos com o casamento, bem como questões de mobilidade das pessoas e da honra presentes no cotidiano do Ceará Colonial. A base documental é composta de 29 processos inquisitoriais presentes no Arquivo da Torre do Tombo , os Regimentos Inquisitoriais, as Constituições do Arcebispado da Bahia, os livros de tombo das paróquias de Sobral e Russas correspondendo as visitas pastorais e as Ordenações do Reino. Essas fontes de pesquisa possibilitam explorar a relação dos sujeitos com o casamento, bem como aprofundar aspectos da sociedade colonial em torno da normatização da Igreja em torno do matrimônio.