O nordeste brasileiro é palco de uma das mais tradicionais artes populares do país. A poesia surge escrita por meio do cordel, cantada ao som das violas, pandeiros, aboios ou mesmo emboladas; nessa perspectiva cria-se uma identidade regionalista que torna essas manifestações representantes de uma cultura popular singular eivada de identidade e tradição. Em sintonia com esse ambiente surgiu Rogaciano Bezerra Leite, nascido em julho de 1920 no sítio Cacimba Novas no município de São José do Egito em Pernambuco, onde passou boa parte de sua infância e adolescência, chegando em 1943 ao Ceará para aqui começar a escrever sua história como repórter itinerante no Gazeta de Notícias. Tendo como referências "carne e alma" (LEITE, 1950) e "cabelos cor de prata" (SOMBRA, 2009) investiga-se as produções intelectuais múltiplas de Rogaciano, sejam elas no universo popular ou no erudito, muitas vezes hierarquizadas pelos "cânones intelectuais" (PAES, 2009). Com isso, o objeto assume em sua "trajetória" (BOURDIEU, 1998) uma postura poética popular em suas apresentações como cantador repentista sertanejo, e também como um jornalista, poeta intelectual urbano capaz de produzir poemas que foram dignos de comparações com Castro Alves, por exemplo. Nessa perspectiva, a cultura permite ao homem não somente adaptar-se a seu meio, mas também adaptar este meio ao próprio homem, as suas necessidades e seus projetos. Em suma a cultura torna possível a transformação da natureza (CUCHE, 1999). Nesse trabalho se apresentará um conjunto de eventos que fundamentam a vida de uma pessoa (BORN, 2001) baseados no contato direto com as fontes até então levantadas. Nessa perspectiva, entende-se a arte como um espelho de sua vida, realidade e época (DAMASCENO, 2013) para assim entender seus rastros na literatura erudita ou na cantoria popular nordestina, captando a versatilidade de Rogaciano Bezerra Leite que navega na fronteira do erudito e do popular.
REFERÊNCIAS.
BORN, Claudia. Gênero, trajetória de vida e biografia: desafios metodológicos e resultados empíricos. In: Sociológicas. Porto Alegre, ano 3, Nº 3, jan/jun 2001, p. 240-265.
BOURDIEU, Pierre. Usos e Abusos da história oral. 2ªed, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas Editora. 1998.
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru, SP. Edusc 1999.
DAMASCENO, Francisco José Gomes. Versos quentes e baiões de viola: cantorias e cantadores do/no Nordeste Brasileiro no século XX. Campina Grande: EDUFCG. 2013.
LEITE, Rogaciano. Carne e Alma, 1ªed, Rio de Janeiro: Irmãos Potengi. 1950.
SOMBRA, Waldy. Cabelos Cor de Prata. Entrevista com o poeta Rogaciano Leite miniantologia. 1ªed, Fortaleza: Edições UFC. 2009.