ST 12 - Indígenas e Intelectuais:
A questão indígena no Instituto do Ceará
(1887-1938)
Ma. Ana Alice Menescal
Doutoranda em História e Cultura do Brasil
Universidade de Lisboa
O Brasil do século XIX passou por profundas mudanças estruturais e, no governo de D. Pedro II, um dos maiores desafios era a fundação do sentimento nacional, cuja estratégia principal era a consolidação da História do Brasil. A mesma aspiração rondava as províncias, motivando a criação dos Institutos Históricos locais. O Institudo do Ceará, iniciado em 1887, também se propôs a fundar a história local para estabelecer o sentimento de pertença ao lugar. As condições naturais adversas, a distância, o baixo potencial econômico e a sociedade miscigenada eram alguns dos obstáculos para o destaque do Ceará diante da capital do Império. Em busca de mais espaço junto ao governo de D. Pedro II, os intelectuais do Instituto do Ceará procuraram contornar as dificuldades relatadas associando a ideia de civilização à província. Seguindo as teorias em voga na Europa, os intelectuais do Instituto do Ceará adotaram a tese do embranquecimento da população evidentemente miscigenada, fundando uma História do Ceará excludente, que vinculava os povos indígenas ao passado e fortalecia o discurso do desaparecimento. Entretanto, a forte presença da cultura indígena na sociedade cearense parecia não entrar em conformidade com a extinção dos nativos, estabelecida oficialmente em 1861. A historiografia tradicional segue os preceitos do Instituto do Ceará. Mas a partir de 1980 os povos indígenas cearenses saíram de um estado de latência, se mostrando novamente para a sociedade. Em busca do entendimento do processo de desaparecimento dos nativos, nos propomos a analisar a imagem construída pelos intelectuais do Instituto do Ceará acerca dos povos indígenas, entre os anos de 1887 e 1938, constantes nos artigos da Revista do Instituto do Ceará. Partindo da produção de seis intelectuais, analisando metodologia e referencial teórico, tentamos perceber a construção da História, da Memória e do Esquecimento do nativo no Ceará e como esta contribuiu para a compreensão que o homem cearense tem do indígena e de si próprio.