ST 12 - SER ÍNDIO E SER CRISTÃO: QUANDO A FÉ MOBILIZA O CAMPO POLÍTICO

TICIANA DE OLIVEIRA ANTUNES

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

O presente trabalho visa analisar a cultura política dos índios que viviam em território cearense, durante o século XIX manifestada, essencialmente a partir da religião. Casos de ações individuais e coletivas dos índios serão apresentados, demonstrando que os índios souberam se aproveitar dos benefícios da sua condição de cristãos e devotos católicos para se mobilizarem em busca de possíveis ganhos políticos, sociais e econômicos, manipulando e ressignificando sua condição de marginalizados. O trabalho aborda situações em que os índios se afirmam donos de Igrejas, anteriormente erguidas nas suas antigas aldeias, como estratégia utilizada para a defesa, controle ou o acesso ao patrimônio material e simbólico erigido em torno dos oragos, o que vai reverberar na secular luta por suas antigas aldeias. Em outros momentos solicitam a presença de párocos que auxiliem os trabalhos de condução da vida religiosa local, já que para eles fora negado o acesso ao monopólio sobre os bens de salvação, controlados por aqueles que administram os sacramentos. O trabalho pretende relativizar e rever a ideia de que a conversão ao catolicismo destrói os valores culturais e sociais que afirmam a indianidade, pretendemos demonstrar que a conversão ao catolicismo garantiu ao índio a entrada na comunidade cristã, onde os padres, colonos, gestores e demais cristãos passaram a compartilhar de uma mesma visão de mundo. Nesse ambiente, as fronteiras étnicas se diluíam, proporcionando a possibilidade de transfiguração dos estigmas impostos a esta população. Com o tempo os índios passaram a ter consciência dos direitos que tinham como filhos de Deus e manipulavam o que estava ao seu alcance para garantir um lugar de reconhecimento junto a comunidade não índia, e atuando como fiéis devotos conseguiram se fazer ativos na dinâmica social. Portanto, fez parte da cultura política dos índios, agirem como católicos e como tais zelavam com esmero e decência por suas igrejas, organizaram novenas, leilões e demais festas religiosas.