O final do século XX e primeira década do XXI foram marcados pela intensificação de uma crescente política de apelo à memória fundamentada em ideias de restituição de direitos e reparação do passado. Em vários países se assistiu a intensas disputas de narrativas sobre o passado recente, especialmente, sobre acontecimentos traumáticos a exemplo das ditaduras na América Latina bem como, as altercações sobre o Holocausto na Europa e Estados Unidos. Notadamente na América Latina, onde nos deparamos com a implantação de várias ditaduras, a temática se tornou um elemento preponderante no debate político, bem como, na organização de diversos grupos sociais, que reivindicam para si, um lugar nas disputas pelas memórias de tais eventos. As discussões em torno da memória e do esquecimento em tais episódios se tornaram uma questão visceral para estes países, particularmente, na organização das democracias que se seguiram aos períodos autoritários. Mas além de uma questão de governabilidade, as altercações giraram em torno da legitimidade na construção das versões sobre esses acontecimentos. Assim como no Brasil em 1964, na Argentina, o último golpe militar efetivado em 24 de março de 1976 se tornou um dos principais temas na agenda política das últimas três décadas. A intensificação dos debates se ampliaram especialmente nos anos 90 com o aparecimento de novos atores como filhos de vítimas e denúncias de arbitrariedades e assassinatos durante o período como a confissão de torturadores e chefes do exército argentino fazendo com que as discussões sobre a memória do período assumissem uma centralidade nos debates políticos e, em especial, ganhassem uma grande repercussão na mídia. No caso dos países do Cone Sul, os grandes grupos de mídia tiveram um papel de protagonistas nos processos de efetivação desses acontecimentos, seja no momento de implantação dos regimes ditatoriais, ou posteriormente, como canal de discussão sobre as apropriações desse passado recente. Esta pesquisa realiza uma reflexão comparativa entre matérias dos Jornais La Nación e Folha de São Paulo sobre os períodos ditatoriais em seus países, afim de compreender como o passado é reformulado e reelaborado a partir das matérias desses jornais.