Na segunda metade do século XIX a questão do abastecimento de água potável tornou-se uma preocupação de diferentes poderes que atuavam na cidade de Fortaleza, Ceará. À medida que houve um crescimento do núcleo populacional, a necessidade de abastecimento de água se tornou indispensável. Porém, esse serviço era deficiente, quando não problemático. A proposição deste trabalho toma como objeto de pesquisa a construção do sistema de água e esgoto na cidade e as práticas no cotidiano dos fortalezenses que utilizam a captação da água como podiam e da maneira que os costumes e a necessidade permitiam. Dessa maneira, aqui discuto como o sistema de abastecimento de água da cidade promove uma disputa entre os saberes e as práticas: enquanto o saber científico questiona e promove um debate sobre a qualidade da água e a ligação desta no combate das doenças; a prática popular continua sendo desvencilhada do controle das polícias sanitárias e utilizando a água a sua maneira. A questão do abastecimento de água atravessou a virada do século XIX para o XX trazendo consigo preocupações de inúmeros administradores públicos, no combate às doenças e a implantação das políticas de higiene e sanitarismo. Proponho então entender a conjuntura da introdução do sistema de abastecimento de água e esgoto da capital e reconhecer as disputas político-comerciais sobre a utilização dos aguadouros públicos por grupos e instituições particulares que exerciam, ou tentava exercer, algum monopólio sobre as formas de uso da água. Estabelecemos uma espécie de cartografia das águas na cidade e referenciamos onde era possível adquirir água antes, durante e depois da construção do primeiro sistema de abastecimento de Fortaleza. Em Fortaleza, as cacimbas, os poços, os chafarizes e, em determinados períodos, as concessões de venda de água foram meios aliados da população. O recorte temporal proposto objetiva localizar os debates a partir de 1862, ano da concessão da venda de água a José Paulino Hoonholtz, até 1926, quando aconteceu a inauguração dos reservatórios de água voltados para o abastecimento da cidade na Praça Visconde de Pelotas (atual Praça Clóvis Beviláqua). Utilizo como fontes para esta pesquisa os Relatórios de Presidentes da Província e do Estado do Ceará no período, os Códigos de Postura de 1893, as Plantas Urbanas de Fortaleza de 1875 e 1888, o fundo de obras públicas do Arquivo Público do Ceará e os periódicos como O Cearense e A Constituição no período em análise.