Este trabalho tem por objetivo analisar as memórias produzidas pelos atores sociais da luta pela terra no norte da Zona Canavieira do estado de Pernambuco. Os conflitos de terra em questão ocorreram especificamente em engenhos situados nos municípios de Abreu e Lima, Goiana, Tracunhaém e Aliança e foram promovidos por trabalhadores rurais da região com o apoio da Igreja, dos sindicatos rurais e de alguns advogados e políticos. Estes embates se deram entre os anos de 1994 e 1998 e tiveram ampla divulgação na imprensa local. Portanto, para além da representação feita nos jornais, na documentação produzida pelas organizações de apoio à luta e nos relatos de membros dessas organizações, procura-se aqui enfatizar os testemunhos dos próprios atores sociais sobre esses conflitos. As memórias que eles produzem sobre as suas experiências de vida e de conflito estão fundamentadas em três aspectos principais. Em primeiro lugar, na infância vivida no sítio da família até o início do trabalho no corte da cana e a posterior saída do sítio. Em seguida, nas lembranças construídas sobre os conflitos de terra, as principais formas de mobilização adotadas e os principais atores envolvidos. Por fim, na situação vivenciada após a conquista da terra e na importância atribuída a essa conquista. Com isto, este trabalho visa analisar as memórias sobre os conflitos numa perspectiva de batalhas da memória, segundo Michael Pollak, pois os relatos dos trabalhadores permitem que se faça uma confrontação entre a sua percepção dos acontecimentos e a representação feita desses mesmos conflitos nas demais fontes orais e escritas consultadas.