ST 09 - A CONSTRUÇÃO DO SAMBA PATRIMÔNIO E O GENOCÍDIO DOS TAMBORES

QUERCIA DE OLIVEIRA CRUZ

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

Quando, em 2004, a UNESCO lançou convocatória para constituição da terceira lista dos patrimônios imateriais da humanidade, acirrados debates em torno dos sambas e suas possibilidades de representantes da identidade nacional foram retomados no Brasil. As prescrições da agência das Nações Unidas, no entanto, são restritivas. A ligação com a indústria cultural, fonográfica e o massificado fenômeno carnavalesco, bem como a ausência de risco de desaparecimento, tornavam o samba carioca inadequado para a disputa do título. Como representante da nação brasileira foi apresentada a candidatura do Samba de Roda do Recôncavo Baiano, proclamado em 2005 como Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade. Os processos de inventário e divulgação da inserção do samba de roda na lista da UNESCO, entretanto, foram acompanhados por publicações jornalísticas e acadêmicas que referendavam seu lugar matricial em relação ao samba, tido nacional. Desta forma, questionamos: quais os desejos subjacentes à candidatura do samba de roda ao título de patrimônio cultural da humanidade? Para construir nossa resposta à indagação proposta, começaremos nosso percurso na década de 1930 quando, em meio a formulação do paradigma da democracia racial, se constituiu a política patrimonial brasileira. A leitura atenta do parecer que ratifica o registro do samba do Recôncavo baiano no Livro de Registros das Formas e Expressões do IPHAN e do Dossiê do Samba de Roda do Recôncavo é, por sua vez, basilar à nossa compreensão. O samba de roda do Recôncavo é negro-diaspórico na origem, mas base para a mestiça nacionalidade na concepção.