Linha 03 – Estudos Críticos da Linguagem

PROJETOS DE PESQUISA EM ANDAMENTO

 

Projeto 1: PragmaCult e cenopoesia, palavras-sementes para mudar o mundo: gramáticas de resistência e práticas terapêuticas da linguagem na extensão comunitária e popular

Coordenadora: Profa. Dra. Claudiana Nogueira de Alencar

Descrição: Este projeto tem por objetivo investigar a produção de gramáticas culturais de resistência a partir da análise de práticas linguísticas vivenciadas nas cartografias do Viva a Palavra, um programa de extensão comunitária e de educação popular comprometido com o enfrentamento da violência por meio da valorização das formas de vida e práticas de arte e cultura das juventudes periféricas. Para isso, busca uma articulação teórico-metodológica entre a Pragmática Cultural e a Educação Popular na proposição de metodologias de pesquisa participante mais horizontais, simétricas, colaborativas e transformadoras. Mais especificamente, serão articuladas as visões de palavra-mundo de Paulo Freire, as de jogos de linguagem e terapia da linguagem de Wittgenstein, com as vivências da extensão comunitária e da cenopoesia, propostas por Vera Dantas e Ray Lima. No que diz respeito aos aspectos metodológicos, a pragmática cultural procurará promover aliança entre os coletivos, movimentos e sujeitos sociais da comunidade e da universidade, participantes da pesquisa, bem como entre abordagens, procedimentos e técnicas da pesquisa cartográfica com os procedimentos e técnicas da educação popular e da cenopoesia. A questão principal é entender como os jogos de linguagem, em práticas organizativas e autoorganizativas de cuidado, de política, de arte, de cultura dos movimentos socias e dos coletivos, vivenciados por meio da extensão comunitária e popular, podem constituir práticas terapêuticas de linguagem em gramáticas de resistência, na construção de outras formas de vida e de espaços de esperança na periferia de Fortaleza.

Palavras-chave: Cenopoesia, pragmática cultural, gramática de resistência, terapia da linguagem, extensão comunitária

 

Projeto 2: Linguagem, discurso e relações dialógicas sob o olhar bakhtiniano em enunciados de múltiplas esferas discursivas

Coordenador: Prof. Dr. João Batista Costa Gonçalves

Descrição: Este projeto de pesquisa pretende analisar e compreender diferentes práticas discursivas seguindo o direcionamento teórico da perspectiva dialógica da linguagem proposta no conjunto da obra do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2010, 2011, 2012, 2013, 2018; MEDVIÉDEV, 2012; VOLÓCHINOV, 2017, 2019). O projeto acolhe pesquisas que tenham interesse na análise da produção, da recepção e da circulação dos sentidos em gêneros discursivos materializados em enunciados concretos verbais, visuais, verbo-visuais e/ou verbovocovisuais presentes em diversas esferas sociais, como a religiosa, apolítica, a literária, a artística, a jornalística, a midiática e a publicitária.

Palavras-chave: Dialogismo. Relações Dialógicas. Enunciado. Esferas Discursivas. Círculo de Bakhtin

 

Projeto 3: As tensões entre mídia, política e direito na história recente do Brasil: linguagem, antagonismo e hegemonia

Coordenador: Prof. Dr. Raimundo Ruberval Ferreira

Descrição: Considerando os pressupostos segundo os quais o mundo social é constituído antagonicamente, e que o antagonismo é condição de possibilidade de todo discurso conforme LaclaueMouffe (1985, 2015),Laclau (1990, 2011), bem como o fato apontado por Bourdieu (2008) das disputas de sentido que acontecem no interior dos campos sociais, inclusive pelo seu domínio, este projeto tem por objetivo investigar as tensões entre os campos da mídia (corporativa e independente), da política e do direito na história recente do Brasil, mais especificamente no que diz respeito às disputas de sentido travadas nesses campos em torno de duas questões: o ativismo judicial, do qual a operação Lava Jato é um exemplo, e a questão da democracia e suas ameaças, a partir da ascensão da extrema direita no Brasil, com a vitória de Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2018. O interesse da pesquisa se volta para um mapeamento das formas de constituição discursiva pelas quais essas duas questões são formuladas no interior desses campos, de seus pressupostos, e das tensões e contradições que elas implicam. Tendo em vista que o projeto em questão congrega pesquisas sobre diferentes aspectos das tensões entre esses campos, que podem ser pensados em função de processos discursivos diversos, seu suporte teórico-metodológico mobiliza conceitos e categorias resultantes do diálogo crítico entre a teoria política contemporânea e as teorias do discurso, da filosofia política e do direito.

Palavras-chave: Mídia. Política. Democracia. Discurso. Hegemonia.

 

Projeto 4: Linguagem midiática, gênero (feminino) e processo de (des)colonialização.

Coordenador: Profa. Dra. Dina Maria Machado Andréa Martins Ferreira

Descrição: Utilizando-se da mídia impressa ou online – como recortes de jornais e revistas de circulação nacional, por exemplo -, busca-se um corpus analítico constituído por figuras femininas ou por figuras femininas junto a masculinas, nas linguagens verbal e icônica, a fim de avaliar como o gênero feminino é construído frente ao masculino. Os recortes do corpus serão da mídia brasileira, composta por uma linguagem localizada no Hemisfério Sul, território muitas vezes excluído das epistemologias hegemônicas, que, em vez de libertar a figura feminina das algemas de um pensamento eurocêntrico e/ou imperialista, reforçam a subalternidade de nosso território linguageiro e cultural. Trata-se, assim, de uma proposta que se forma por uma tríade: linguagem, gênero e território cultural. A qualificação principal do problema está na territorialização da linguagem performativa do gênero e na sua valorização enquanto parte de uma epistemologia do sul e/ou do norte – (des)colonialidade, (des)colonização, como apontam Santos e Meneses (2010). O gênero construído na linguagem, territorializado no Hemisfério Sul, pode ou não ser traduzido pela subalternidade; pode, também, ser estabilizado ou desestabilizado na e pela linguagem. Para argumentar sobre tal problemática, fazemos um percurso teórico crítico: partimos de Fairclough (2001 [1992]; 2003; 2005), cujas propostas serão aplicadas na análise do discurso midiático e de seus performativos simbólicos (BARTHES, 1969; ELIADE, 2012; HAESBAERT, 2004); passamos por Butler (1997; 2004; 2010) e por Spivak (1994), que abordam o gênero feminino, e chegamos a Grosfoguel (2010), a Maldonado Torres (2010), a Quijano (2010) e a Santos e Meneses (2010), que discutem a respeito das teorias (des)coloniais. A originalidade desse projeto está, de um lado, nos estudos de gênero – no caso, do feminino e do feminino junto ao masculino – pela estilização do corpo (PINTO, 2002), levando em conta a forma como a linguagem constrói o gênero; e, de outro, principalmente nos estudos – ainda não muito desenvolvidos – que localizam e contextualizam o gênero a partir de epistemologias territorializadas (ou territorializantes). Ou melhor, no fato de que o presente projeto recebe contribuições de pensadores do Hemisfério Sul e também do Hemisfério Norte (SANTOS; MENESES, 2010), que analisam o uso da linguagem sem levar em conta a influência da territorialização, da historialização/historialidade e da geograficidade das epistemologias (AGAMBEN; 2010, VATTIMO, 1985) como formadoras de determinado tipo de gênero. Esse percurso temático-teórico, sem dúvida, influencia a construção do gênero, quer seja local, quer seja globalmente. Dessa forma, mesmo considerando o poder global como o grande dirigente, é no poder local e em seu território que emergem as forças hegemônicas (eurocêntricas e imperialistas) que vão interferir no que convencionamos denominar “gramática cultural”, ou seja, nas normas e nos valores do cotidiano de determinada comunidade (FERREIRA; ALENCAR, 2013).

Palavras-chave: Gênero. Mídia. Representação social. Performatividade. Corpo.

 

Projeto 5: Interações Sociais, Trabalho com as Faces e Pragmatica: estudos sobre a (im)polidez linguistica e violência no Brasil

Coordenador: Profa. Dra. Letícia Adriana Pires Ferreira dos Santos

Descrição: Este projeto de pesquisa se fundamenta em abordagens pragmáticas e sociocognitivas e se concentra na investigação do fenômeno da (im)polidez, bem como da violência linguística, por meio do estudo de processos de interação social, da análise da conversação e das faces em diversos gêneros textuais que circulam na sociedade contemporânea, nos quais a (im)polidez, a (des)cortesia e a violência se materializam. Metodologicamente, as pesquisas associadas ao presente projeto serão de natureza descritiva e exploratória e poderão partir de um método etnográfico, cartográfico, compreendendo um corpus de textos dos mais diversos gêneros da atualidade, que poderão ser analisados qualiquantitativamente. Os pressupostos que embasarão tais análises se baseiam na Teoria da Polidez Linguística em consonância com os estudos críticos da linguagem, segundo os quais a linguagem é uma forma de ação (AUSTIN, 1990), sendo dotada, por consequência, de uma dimensão performativa (OTTONI, 1998) e estando ligada à ideologia e ao poder, consoante uma concepção crítica de ideologia (THOMPSON, 2011), numa perspectiva pragmática. Nesse sentido, tal perspectiva estabelece uma estreita correlação com a teoria interacionista de Goffman (2012) – que versa, inicialmente, sobre a preservação da face (self) dos sujeitos interactantes. Pretende-se usar os estudos teóricos de polidez de Brown e Levinson (1987) – juntamente com as categorias de Leech (2005) acerca da (im)polidez linguística, vivenciada na e pela linguagem, como ponto de partida histórico e disseminação desse fenômeno. Diante disso, as reflexões a serem construídas serão amparadas por um olhar crítico, à luz do pós-estruturalismo, o que possibilitará que a Linguística Aplicada continue avançando em direção a novas frentes de estudo, como é o caso da Nova Pragmática.

Palavras-chave: Pragmática. (Im)polidez. Violência.

 

Projeto 6: Abordagem discursiva das representações sociais: sistematização de um construto teórico-metodológico.

Coordenador: Prof. Dr. Lucineudo Machado Irineu

Descrição: Este projeto de pesquisa, alinhavado aos pressupostos epistemológicos da Linguística Aplicada, tem como objetivo geral sistematizar os princípios teórico-metodológicos do que compreendemos como abordagem discursiva das representações socais (IRINEU, 2019); isto é, o olhar especializado que lançamos para o estudo de tais representações a partir da interface teórico-metodológica estabelecida entre a Teoria das Representações Sociais, no campo da Psicologia Social (ABRIC, 1994; FLAMENT, 2001; DOISE, 2001; JODELET, 1991; MOSCOVICI, 1976), e a Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 2008; VAN DIJK, 2010), no campo da Linguística e da Linguística Aplicada. Nesse sentido, daremos especial atenção à análise dos processos discursivos envolvidos na reprodução desses “objetos do pensamento” (MOSCOVICI, 1976), por meio dos quais elaboramos nossa visão sobre o mundo e sobre seus elementos constitutivos. De modo específico, esse projeto objetiva congregar pesquisas que analisem representações sociais (re)produzidas nos discursos de/sobre grupos minoritários e/ou em situação de vulnerabilidade social – tais como a comunidade LGBT, os negros, os indígenas, os estrangeiros, os imigrantes, as pessoas com deficiência, os ciganos, os sujeitos em situações de rua, as mulheres vítimas de violência e as crianças institucionalizadas, dentre outros -, no contexto da América Latina, em perspectiva sincrônica ou diacrônica, conforme mostradas nos discursos midiático, autobiográfico, pedagógico e/ou acadêmico que circulam na modernidade tardia.

Palavras-chave: Representações sociais. Abordagem discursiva. Grupos minoritários. Vulnerabilidade social. Modernidade tardia.