Livro ” “Enterrar el-rei Sebastião” – Produto da Parceria Brasil/Hungria

23 de janeiro de 2020 - 19:20 #

As relações institucionais Brasil/Hungria no âmbito da Universidade Estadual do Ceará – UECE iniciaram a parir da rica parceria com a Universidade Eötvös Loránd – ELTE, através de convênio bilateral internacional assinado em 2016.

Desde então, várias foram as ações de integração e internacionalização viabilizadas, as quais difundiram a cultura brasileira e húngara em ambos os países. Considerando eventos acadêmicos diversos, espetáculos artísticos, produções literárias dentre outros, destaca-se a atuação do Professor Urbán Bálint como docente responsável pelo Leitorado Húngaro da UECE no ano de 2018, que obteve grande êxito de produção acadêmica envolvendo não somente os alunos do Núcleo de Línguas da UECE no Campus Fátima, mas toda a comunidade acadêmica.

Assim, é um honra para a nossa Universidade ter no catálogo de publicações da Editora UECE um livro do estimado professor húngaro em nosso acervo de e-books. Esse “Enterrar el-rei Sebastião”: a reinterpretação e a reescrita do mito de D. Sebastião na ficção pós-25 de abril (Urbán, Bálint 2019) está disponível para leitura no link abaixo com prefácio da Profª. Sarah Diva Ipiranga, Professora Adjunta de Literatura Brasileira da UECE.

Boa leitura!

Livro:http://www.uece.br/eduece/dmdocuments/Enterrar%20El-Rei%20Sebasti%C3%A3o.pdf

Mais informações: ecint@uece.br

Resumo:Desde o momento da fundação da nação em Ourique as narrativas míticas desempenharam um papel fulcral e imprescindível para a existência da cultura portuguesa. Portugal, basicamente, pensava-se através dos seus mitos e construiu a sua identidade nacional com a ajuda destes discursos ficcionais. O mito de D. Sebastião, isto é, aquela narrativa mítica que se desenvolveu em torno da figura do jovem rei do século XVI, sem qualquer dúvida, é um dos mitos mais complexos, mais significantes e mais importantes da tradição portuguesa, que durante longos séculos enriquecia e nutria a memória cultural do país, e contribuía para a legitimação discursiva da identidade nacional.O mito cujas raízes remontam até à tradição hebraica do Antigo Testamento e acompanham a fundação de Portugal com o milagre de Ourique, passou a ser uma das narrativas fundamentais e simbólicas da identidade cultural a partir do fim do século XVI. Este estudo, partindo da própria história do mito sebástico e do seu papel central no padrão da autognose nacional, analisa como é que a literatura pós-25 de Abril reescreve e reinterpreta a narrativa mítica do sebastianismo. No quadro da complexa transformação de mentalidades do período pós-revolucionário, Portugal começou a repensar e reformular a sua identidade, o que significou que queria afastar-se, quanto mais possível, daquelas narrativas e daqueles modelos que o definiam durante vários séculos e que o Estado Novo extrapolou na forma duma ideologia nacional. A perda do estatuto colonial, a nova posição geopolítica do país no contexto europeu, o colapso das grandes metanarrativas nacionais e a aproximação do fim do milénio contribuíram juntos para a necessidade de reformular a identidade cultural do país. A literatura pós-25 de Abril, assim, virou-se contra as antigas narrativas míticas e históricas, reescreveu e reinterpretou as leituras vigentes e canonizadas do passado glorioso, subverteu a complexa mitologia nacional, e colocou-se numa posição evidentemente crítica para com as tradições nacionais. Tendo em conta isto, este estudo apresenta através da análise de quatro romances como é que o mito sebástico se desconstrói e se reescreve na literatura pós-25 de Abril. Os quatro romances que constituem o corpus analítico do trabalho – nomeadamente O Mosteiro (1980) de Agustina Bessa-Luís, As Naus (1988) de António Lobo Antunes, Jornada de África (1989) de Manuel Alegre, e O Conquistador (1990) de Almeida Faria – na minha leitura, através de diversas estratégias discursivas, pretendem realizar o mesmo objetivo, isto é, a desconstrução e a profanação do mito de D. Sebastião. Desta forma, o estudo analisa como é que estas quatro obras ficcionais do corpus reinterpretam e reescrevem com a ajuda de poéticas diferentes a narrativa do soberano mítico dentro das matrizes da cultura pós-revolucionária e pós-moderna.